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Pais costumam demorar para perceber situação problemática
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando recebeu o convite
para trabalhar em Lisboa há
dois anos e meio, o casal Patrícia Vasconcelos Torres, 30, e
Carlos Eugênio Torres, 26, não
imaginava os problemas que
teria para (não) registrar o filho que viria a nascer em Portugal. Hoje com 19 meses, o bebê Carlos Eduardo não tem
certidão de nascimento.
Em Lisboa, o consulado brasileiro emitiu um registro com
a ressalva de que a nacionalidade está sujeita à residência no
Brasil e à ação na Justiça Federal. O governo português concede apenas um boletim, um
documento meramente comprobatório de lugar de nascimento, sem valor jurídico.
De passagem pelo Brasil em
janeiro deste ano, o casal tentou, em vão, validar em um cartório de Fortaleza a certidão.
Em nota, o cartório João de
Deus diz que "não pode transcrever o documento sem determinação judicial".
Na prática, o apátrida não
tem direitos e não é reconhecido nem amparado pelo Estado.
Sem certidão de nascimento,
não pode ter RG, não vota, não
serve ao Exército, não vai à escola pública e provavelmente
não conseguirá um emprego.
Há 16 anos no Japão, Carmen Lúcia Tsuhako, 37, tem
dois filhos sem cidadania brasileira, Isabela, 12, e Hiroshi, 5.
"Demoramos anos para perceber em que situação nossos filhos se encontravam", diz a
mãe.
Na Palestina há dez anos,
Yusra Sayej, 36, de Pindamonhangaba (SP), vive situação
parecida. Os filhos Maria, 3, e
os gêmeos Jorge e John, de 22
meses, têm registros provisórios emitidos pelo representante diplomático em Ramallah.
"É revoltante. Sou brasileira
e meus filhos não são? O que é
isso? ", pergunta.
Hoje na Austrália, os filhos
de Ana Lúcia Pereira de Siqueira, Alícia, 5, e Dilan, 3, nasceram na Alemanha. O pai alemão lhes transmitiu cidadania
daquele país, mas os meninos
não são brasileiros.
Dos dois filhos da paulistana
Helena Americano Fragman,
44 anos, há 19 anos em Rosh
Ha'ayin (Israel), apenas o mais
velho, de 14 anos, é brasileiro
nato. Nascido em Israel antes
da mudança na Constituição,
Amir Fragman não entende o
porquê de o irmão, Uri Fragman, não ter cidadania.
"São todos brasileiros de coração e alma, mas não têm documentos", diz Helena.
Algumas nações, como Israel, concedem ajuda humanitária a pessoas nessa condição.
Mas a mobilidade é restrita.
Não podem, por exemplo, entrar nas Forças Armadas, uma
das principais fontes de renda
para jovens daquele país.
Movimento
Um movimento nascido na
Suíça pressiona o Congresso a
aprovar uma emenda à Constituição que devolva a condição
de nacionalidade nata às crianças de ascendência brasileira
no exterior.
Protestos em frente às embaixadas brasileiras nos países
com maior contingente de imigrantes estão previstos para os
dias 1º e 2 de junho para cobrar
agilidade na votação.
Curiosamente, brasileiros
refugiados e exilados durante a
época da ditadura tinham garantida a nacionalidade aos
seus filhos, mesmo banidos do
país pelos militares.
Hoje, muitos deles estão no
governo e têm filhos brasileiros nascidos no Chile ou na Europa. É o caso do governador
paulista, José Serra.
"Os estrangeiros nascidos no
Brasil adquirem automaticamente a nacionalidade brasileira. É absurdo, então, tirar a
nacionalidade dos filhos dos
emigrantes por nascerem no
exterior", diz Rui Martins, responsável pelo organização
Brasileirinhos Apátridas na
Suíça.
(VQG)
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