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Tombados, prédios do Ipiranga compõem rota arquitetônica
Casarões do início do século 20 e institutos com projeto de Ramos de Azevedo são as "novas" preciosidades do bairro
Tombamento de 12 prédios ocorreu na semana passada pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico)
MARIANNE PIEMONTE
DA REVISTA DA FOLHA
Se sentimento tivesse endereço, a morada do ufanismo seria o Ipiranga. Não bastam os
versos de Duque Estrada, que
narram suas margens plácidas,
nem o imaginário escolar que
desenha uma idéia diferente de
independência ou morte na cabeça de cada um. Em mais uma
demonstração de que o bairro
está inerentemente impregnado do pó da história, na semana
passada o Conpresp (Conselho
Municipal de Preservação do
Patrimônio Histórico) tombou
12 prédios dali -há ainda seis
casarões nessa condição.
"É um tombamento temático, pois foram resguardados
prédios dos institutos assistenciais e educacionais doados ao
bairro pelo conde José Vicente
de Azevedo", diz Vânia Lewkowicz, 46, do Departamento do
Patrimônio Histórico.
Entre as preciosidades arquitetônicas doadas pelo conde estão quatro construções de Ramos de Azevedo (1851-1928, autor do Teatro Municipal), além
de projetos de alguns dos principais parceiros do arquiteto na
época, como Alexandre Albuquerque e seu Seminário Central do Ipiranga, de 1943.
Político rico e influente, diz a
história que o conde José Vicente de Azevedo (1859-1944)
comprou terras devolutas do
Império e as doou com a condição de que virassem instituições de ensino e caridade. É o
caso, por exemplo, do Instituto
Padre Chico, batizado com o
nome do religioso que recebeu,
em 1928, as terras do conde. Ou
do antigo juvenato Santíssimo
Sacramento (1929), uma das
obras de Ramos de Azevedo.
Segundo Tatiana Duschin,
62, organizadora do Museu Vicente de Azevedo, foi o conde o
responsável pelo arruamento
do bairro e pela chegada das linhas de bonde à então afastada
região -consta que essa generosidade tinha raízes na benevolência de um tio, por quem o
conde foi criado depois de perder o pai, aos nove anos.
O urbanista da USP Benedito
Lima de Toledo, 72, diz que o
Ipiranga foi um bairro de desenvolvimento tardio, posterior aos tradicionais pólos industriais como a Mooca e Brás.
"Ele foi se estabelecendo porque é acesso para o litoral, pois
era muito distante e tinha difícil trânsito para o centro", diz.
No início do século passado,
conta o urbanista, era comum
na praça da Sé um loteador fazer barulho para convencer a
população a morar na região.
"Como a terra lá era muito barata, eles lotavam bondes e levavam os trabalhadores para
comprar as casas geminadas."
Essas casotas pontuam até
hoje o desenho do bairro. Outra
forte característica é herança
do arquiteto português Ricardo
Severo, que também trabalhava no escritório de Ramos de
Azevedo: "Permanecem intactas as vielas de acesso, pequenas ruas de serviço onde os padeiros e leiteiros deixavam suas
mercadorias", explica. As vielas
ainda estão ali, entre as travessas da rua Bom Pastor.
Toda essa história de prosperidade não seguiu trajetória
apenas ascendente. Como vários outros bairros da cidade, a
região carece de intervenções
que preservem seu passado,
mas renovem o presente. "O
Ipiranga se desenvolveu muito
em função das indústrias das
famílias abastadas que se instalaram por lá, como a Jafet. Mas,
hoje, ele está a espera de intervenção urbanística que o reorganize", diz o professor de urbanismo da USP Eduardo Rodrigues, 63. Para a arquiteta do
Departamento do Patrimônio
Histórico Ana Winther, 47, a
esperança é que iniciativas como a do tombamento preservem a identidade do lugar.
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