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PM apura ronda de policiais em casa de repórter no Rio
Jornalista da Folha relatou anteontem como funciona o treinamento de recrutas
Vestidos como civis, dois PMs foram ontem a prédio e interrogaram quatro pessoas; ordem não veio da cúpula da corporação, diz comandante
DA SUCURSAL DO RIO
O comando da Polícia Militar
do Rio determinou a abertura
de averiguação para apurar as
razões da presença de PMs nas
vizinhanças do apartamento do
repórter da Folha Raphael Gomide. O jornal publicou na edição de anteontem, no caderno
Mais!, reportagem em que Gomide relatava como são treinados os recrutas que entram na
corporação.
Aprovado em todas as etapas
-inclusive no exame de pesquisa social-, Gomide ingressou no Curso de Formação de
Soldados, no qual permaneceu
de 3 a 25 de janeiro. Desde essa
data, há quase quatro meses,
está desligado da corporação.
Ontem, dia seguinte ao da
veiculação da reportagem
-que mostra da falta de papel
higiênico para os alunos até os
poucos tiros disparados no treinamento-, um subtenente e
um sargento da PM, vestidos
com roupas civis, estiveram no
prédio em que o repórter mora
e interrogaram dois porteiros, a
síndica e uma moradora. Mostraram fotografias e cópias de
documentos pessoais do jornalista e fizeram perguntas sobre
seu comportamento.
À noite, o comandante-geral
da PM, coronel Gilson Pitta Lopes, disse à Folha não ter partido nem dele nem do comando
do Estado-Maior da corporação ordem para que PMs fossem à casa do jornalista. Por
volta das 19h30, um PM fardado encontrava-se na porta do
prédio em que mora Gomide.
Pitta Lopes afirmou que determinou abertura de averiguação sumária para apurar o
que levou os policiais ao endereço, "para dar uma resposta
imediata". De acordo com ele, a
PM tem como tarefa acompanhar o cotidiano daqueles que
deixam a corporação. Mas reconheceu que visitas como a de
ontem "não são rotina".
A averiguação sumária poderá resultar em IPM (Inquérito
Policial Militar) caso conclua
que houve irregularidades na
ida dos policiais ao prédio de
Gomide. O comandante-geral
afirmou que a investigação interna foi ordenada pelo governador Sérgio Cabral Filho
(PMDB) e pelo secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame.
Cabral Filho afirmou ontem,
em Paris, ter determinado ao
secretário de Segurança "rigor
máximo" para investigar a presença dos PMs no prédio em
que mora o repórter da Folha.
"O governador não tolera e
não aceitará qualquer ação de
ameaça ou intimidação à liberdade de imprensa -muito menos em seu governo", diz mensagem divulgada pelo Núcleo
de Imprensa. Conforme o texto, Cabral Filho "determinou
que as apurações sejam feitas o
mais rapidamente possível"
para identificar os "envolvidos
nesta atitude absolutamente
abominável e condenável".
Reportagem positiva
Os dois policiais que estiveram de manhã na casa de Gomide trabalham no Centro de
Recrutamento e Seleção da
PM. Segundo Pitta Lopes, a ordem para que fossem ao prédio
partiu do comando da unidade.
Para ele, a presença dos policiais no edifício de Gomide não
deve ser interpretada como
uma ação intimidatória.
"Em momento algum houve
por parte do comando da corporação demanda para proceder de forma ameaçadora ou
intimidatória. Eles [os PMs] se
apresentaram como policiais
militares, disseram o motivo
pelo qual estavam ali e foram
muito bem recebidos", disse.
"A matéria foi muito bem escrita. Não vimos nada de negativo para a nossa instituição. O
jornalista não viu apenas as
nossas mazelas. Encaramos [a
reportagem] como positiva. A
reportagem foi muito bem
aceita pelo comando da corporação. A imprensa é bem-vinda.
A PM sempre demonstrou
transparência", afirmou o comandante da PM.
De acordo com ele, as informações da reportagem serão
aproveitadas pela PM na preparação de novos cursos de recrutamento. "É mais uma lição", acrescentou ele, que pediu "mil desculpas" ao jornalista pelo incômodo causado.
O governador em exercício
do Rio, Luiz Fernando Pezão,
telefonou à noite para Gomide.
Reconheceu que era constrangedora a presença da polícia em
torno do prédio do repórter e
afirmou que reforçaria com a
Secretaria de Segurança a determinação de impedir que a situação se repetisse.
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