São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2010

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DEPOIMENTO

Edifício já acerta no nome

RAUL JUSTE LORES
EDITOR DE DINHEIRO

Do portão do Pauliceia, São Paulo se mostra caminhável e acessível. No mesmo quarteirão, convivem Reserva Cultural, com seus filmes franceses e um bistrô envidraçado, o Top Center, com sua praça de alimentação, e a Fnac, que me permite folhear livros e revistas.
A uma quadra dali, tem uma padoca 24 horas. A dois quarteirões, um supermercado também apto para notívagos, além do centro cultural da Fiesp.
Mas a maior atração mesmo é ver gente na rua, dia e noite, de segunda a domingo, de engravatados a artistas, de universitários a câmeras de TV, que adoram fazer um "fala-povo" na calçada generosa.
Morar no Pauliceia oferece essa sensação de vida na metrópole que é comum para quem mora em Manhattan, Londres ou Buenos Aires, mas que é cada vez mais rara na São Paulo de calçadas minguantes e ruas antipedestres, que ama as áreas internas, mas ignora o espaço público.
Obra dos anos 1950, período áureo do modernismo brasileiro, também é prova de quanto a arquitetura residencial paulistana degringolou.
Se hoje os bairros nobres são infestados de neoclássicos e espelhados verdes, com nomes que vão de Chateaux Lafite a Imperial Tower, o Pauliceia já acerta a partir do nome.
Cores, traços e materiais são elegantes e discretos, os jardins citam as curvas de Burle Marx, a marquise da entrada se equilibra em colunas finíssimas.
Há bancos nos jardins, tanto na entrada da Paulista quanto na do bloco da rua São Carlos do Pinhal. Nos elevadores, cruzam-se de aposentados que parecem desfrutar do prédio desde a inauguração a chineses recém-chegados, que trabalham nos chinglings da avenida.
Artistas e estudantes se dividem entre seus apês, que vão de quitinetes aos de quase 200 m2.
Essas almas livres mais desfrutam do que se incomodam com a densidade demográfica que impera na Paulista.
O IPTU é caro, remanescente da época em que a avenida era o coração financeiro do país, e pune aqueles que mantêm a eclética Paulista como lugar também para se morar.
Poderia ser mais caro nas novas áreas nobres erguidas pela especulação imobiliária, as que abrigam prédios que não têm nada a ver com o Pauliceia.


RAUL JUSTE LORES morou no edifício Pauliceia de 2005 a 2008


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