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DEPOIMENTO
Edifício já acerta no nome
RAUL JUSTE LORES
EDITOR DE DINHEIRO
Do portão do Pauliceia, São
Paulo se mostra caminhável e
acessível. No mesmo quarteirão, convivem Reserva Cultural,
com seus filmes franceses e um
bistrô envidraçado, o Top Center, com sua praça de alimentação, e a Fnac, que me permite
folhear livros e revistas.
A uma quadra dali, tem uma
padoca 24 horas. A dois quarteirões, um supermercado também apto para notívagos, além
do centro cultural da Fiesp.
Mas a maior atração mesmo é
ver gente na rua, dia e noite, de
segunda a domingo, de engravatados a artistas, de universitários a câmeras de TV, que adoram fazer um "fala-povo" na
calçada generosa.
Morar no Pauliceia oferece
essa sensação de vida na metrópole que é comum para quem
mora em Manhattan, Londres
ou Buenos Aires, mas que é cada
vez mais rara na São Paulo de
calçadas minguantes e ruas antipedestres, que ama as áreas
internas, mas ignora o espaço
público.
Obra dos anos 1950, período
áureo do modernismo brasileiro, também é prova de quanto a
arquitetura residencial paulistana degringolou.
Se hoje os bairros nobres são
infestados de neoclássicos e espelhados verdes, com nomes
que vão de Chateaux Lafite a
Imperial Tower, o Pauliceia já
acerta a partir do nome.
Cores, traços e materiais são
elegantes e discretos, os jardins
citam as curvas de Burle Marx, a
marquise da entrada se equilibra em colunas finíssimas.
Há bancos nos jardins, tanto
na entrada da Paulista quanto
na do bloco da rua São Carlos do
Pinhal. Nos elevadores, cruzam-se de aposentados que parecem desfrutar do prédio desde a inauguração a chineses recém-chegados, que trabalham
nos chinglings da avenida.
Artistas e estudantes se dividem entre seus apês, que vão de
quitinetes aos de quase 200 m2.
Essas almas livres mais desfrutam do que se incomodam com
a densidade demográfica que
impera na Paulista.
O IPTU é caro, remanescente
da época em que a avenida era o
coração financeiro do país, e
pune aqueles que mantêm a
eclética Paulista como lugar
também para se morar.
Poderia ser mais caro nas novas áreas nobres erguidas pela
especulação imobiliária, as que
abrigam prédios que não têm
nada a ver com o Pauliceia.
RAUL JUSTE LORES morou no edifício Pauliceia
de 2005 a 2008
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