São Paulo, quarta, 20 de maio de 1998

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OPINIÃO
Brincando de "War"

PAULO ROBERTO RAYMUNDO

Se alguém perguntar a Fernando Davos Cardoso, o FDC, se prefere ser rico e feliz a ser pobre e infeliz, ele escolherá rapidinho a primeira alternativa, acrescentando que gostaria de tornar-se também onipresente e sempiterno. Sinais do seu governo dão essa indicação.
Jornalistas já perceberam que FDC só responde a críticas formuladas pelo adversário Lula, exibindo assim a atitude do inquirido que determina as perguntas que o inquiridor pode fazer.
Estratagema similar o "soi-disant" social-democrata vem desenvolvendo nas suas políticas de enfrentamento da sociedade civil. Ele sabe que, excluídos os partidos adversários, as maiores resistências que encontra são o MST e o funcionalismo federal. Nosso Clausewitz de fim de feira pensa assim: o MST pega pesado, é melhor negociar com ele. Já o movimento dos servidores federais é mais fácil de enfrentar, tendo contra si a mídia e o Judiciário, domesticados pelo Executivo.
Em suma, o governo poderia desenvolver uma política salarial para o funcionalismo federal a partir de reajustes lineares. Dinheiro para isso tem; é só ver o quanto a arrecadação tem aumentado.
Mas ele acha melhor realimentar sistematicamente a antipatia dos servidores contra si e sua imagem de guardião da moeda, polarizando contra eles. Para isso, aniquila-os economicamente, contando com o apoio da mídia, que já concluiu sua tarefa de anatematizá-los perante a massa acrítica.
Outro exemplo de engenharia política vulgar vem do braço armado do governo, o Ministério da Administração. O ministro Bresser emula o conviva que cantou a mulher do brutamontes e sai da festa andando para trás, para dar a impressão de que está chegando.
Antes de a reforma administrativa ser promulgada, o trainee de ilusionista promove mudanças no serviço público, chegando a contratar sem licitação a FIA-USP e pagando a ela quase R$ 1 milhão para "reestruturar" o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
A par disso, e achando que ninguém nota seu passa-moleque inconstitucional, o ministro, ainda na vigência da estabilidade funcional dos servidores federais, reduz a remuneração desses à metade, como se fosse possível dar provimento às relações de emprego do serviço público suprimindo seu conteúdo remuneratório. Ou seja, enquanto reclama do trâmite moroso da reforma administrativa, ele demite não apenas uma parte do funcionalismo, mas todo ele!
FDC imagina-se estadista. Suas maquinações revelam-no um sôfrego arauto da Idade Média.


Paulo Roberto Pereira Raymundo, 44, contador, é pós-graduado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas, fiscal do INSS e autor do livro "O Que é Administração" (editora Brasiliense)



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