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MÁFIA DA PROPINA
Relatório da Ouvidoria mostra que funcionário tentou burlar limite de acesso a controle de tramitação de processos
Pacote anticorrupção não impediu fraude
CHICO DE GOIS
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem a decisão da prefeita Marta
Suplicy (PT) de limitar a três funcionários o acesso ao controle de
tramitação de processos evitou
que o esquema de corrupção continuasse nas administrações regionais. É o que demonstra o relatório da Ouvidoria Geral do Município, divulgado ontem pela Folha, que apontou o sumiço de
43.152 procedimentos, 58,66%
(25.312) dos quais sem registro.
Em março, depois que o caso de
desaparecimento de processos
veio à tona, a prefeita lançou um
pacote anticorrupção que, entre
outras coisas, restringia a três os
servidores com direito a senhas
para encaminhar ao "Diário Oficial" atos de deferimento ou indeferimento dos processos. A medida tinha como objetivo inibir o
uso de senhas para dar legalidade
a procedimentos irregulares.
No entanto, de acordo com o relatório do delegado Luiz Antônio
Rebello, em abril houve mais uma
denúncia de tentativa de uso irregular de senhas para dar sumiço a
processos. A tentativa de fraude,
que não chegou a ser concretizada, aconteceu na Administração
Regional da Lapa.
Rebello informa, em seu relatório, que foi procurado pelo administrador Adaucto José Durigan,
que lhe entregou uma fita cassete
contendo a gravação de uma conversa telefônica entre duas funcionárias da regional, na qual
uma delas perguntava se uma terceira servidora lhe havia entregue
R$ 300 para dar sumiço a três processos fictícios, utilizando-se, para tanto, de sua senha de acesso ao
sistema. O valor total da propina,
no entanto, era de R$ 900.
A conversa foi gravada pela servidora dona da senha, que se sentiu usada pelas colegas e se recusou a participar do esquema. As
outras duas funcionárias negaram que tenham proposto o suborno.
O delegado não se convenceu
das alegações das duas funcionárias acusadas da irregularidade e,
no relatório, questiona como se
justifica o sumiço de 20 processos
que deveriam estar em poder de
uma delas e desapareceram.
Um dia antes de Marta lançar o
pacote anticorrupção, um outro
caso de uso irregular de senha
aconteceu, desta vez na Administração Regional de Santo Amaro.
Rebello classificou o episódio como "um dos mais graves já investigados" pela Ouvidoria.
Em 14 de março, um empreendedor requereu o auto de regularização de uma edificação e o alvará de aprovação de reforma
sem aumento de área para dois
outros imóveis.
O sistema de informática da regional registrou que os pedidos
tramitaram pelos setores de autuação e cadastro, mas, na prática,
isso não ocorreu.
Intrigado, o delegado foi ao endereço que constava nos processos e surpreendeu-se com a constatação de que o prédio de nove
andares que requeria a regularização com base em uma lei de anistia, simplesmente não existia.
"Isso dá a dimensão e o vulto das irregularidades que corroem
a administração municipal."
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