São Paulo, domingo, 20 de junho de 2004

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SAÚDE

Pesquisa da USP de Ribeirão Preto mostra que moradores da periferia ganharam mais peso em dez anos do que a classe média

Obesidade aumenta entre os mais pobres

MAURÍCIO BARBOSA
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO

A obesidade e os problemas de saúde decorrentes dela aumentaram a lista de preocupações da população de baixa renda da cidade de Ribeirão Preto (314 km de São Paulo). Em um período de dez anos, o número de moradores da periferia que ganharam peso acima do considerado ideal cresceu 212%.
A classe média também engordou no período, mas numa proporção bem menor: 16%. Os dados são de uma pesquisa inédita realizada pela USP de Ribeirão em 1991 e em 2001. Só agora os resultados da pesquisa e as causas da obesidade estão sendo avaliados. "Estamos avaliando se houve aumento na ingestão de alimentos, mas não há dúvidas de que os hábitos alimentares errados e a depressão estão entre as principais causas do aumento de peso", disse o médico José Ernesto dos Santos, coordenador clínico do grupo de obesidade médica do HC (Hospital das Clínicas).
Santos coordenou a pesquisa, que foi aplicada em quatro bairros de Ribeirão Preto e foi financiada pela National Science Fundation, dos Estados Unidos.
A pesquisa envolveu 200 famílias em cada bairro, com pessoas acima de 18 anos. É considerada obesa a pessoa com IMC (Índice de Massa Corpórea) entre 30 e 40 -para calculá-lo, é preciso dividir o peso do indivíduo pelo quadrado de sua altura.
A revista científica "Social Science & Medicine", dos Estados Unidos, publicou neste mês um artigo com análise de parte da pesquisa. A ingestão de bebidas alcoólicas é o primeiro item avaliado e mostrou que tem forte influência na obesidade, pela alta quantidade de calorias, em todas as classes sociais.
O peso do fator psicológico ainda não foi analisado, mas quem tem ou já teve problemas com excesso de peso garante que é um dos fatores que mais influenciam.
A psicóloga Ana Maria Carvalho, da USP, disse que o fator psicológico influi em dois momentos na obesidade. Primeiro, na formação dos hábitos alimentares errados, de fácil aquisição, pela falta de outras atividades.
Depois, quando a obesidade já está instalada, a pessoa fica deprimida, seja por causa de uma roupa que não serve mais ou por discriminação, e muitas vezes engorda ainda mais. "O aspecto psicológico não tem endereço social, atinge todas as classes."
A psicóloga lembra, no entanto, que as classes média e alta têm condições de procurar especialistas para perder peso.
Para Santos, o quadro de obesidade na população de baixa renda só será revertido com programas de reeducação alimentar, aliados à prática de exercícios físicos.
A assessoria da Prefeitura de Ribeirão informou que o atendimento aos obesos de baixa renda é feito "informalmente, em alguns laboratórios de endocrinologia", mas a administração tem intenção de implantar um laboratório específico para esse tipo de atendimento na cidade.
A USP mantém um programa de redução de peso para adolescentes, que está desativado neste ano. Segundo a coordenadora, Rosane Pilot Pessa Ribeiro, doutora em nutrição, é difícil atrair os mais carentes, seja pela falta de interesse da família ou porque os que começam não vão até o final porque, muitas vezes, não têm dinheiro para o ônibus.
Outro item preocupante da pesquisa da USP é o que revela o aumento de pessoas com colesterol alto, acima de 200, uma das conseqüências da obesidade.


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