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Anac leva até 4 anos para receber multa de empresas
Agência recebe apenas 17,5% das infrações contra companhias aéreas
Neste ritmo, quem for prejudicado agora corre o risco de só ver a punição perto da Copa do Mundo no Brasil
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DE BRASÍLIA
Só agora, quatro anos depois, a Anac, órgão federal
que lançou na semana passada normas para punir empresas aéreas por má qualidade
no serviço, está concluindo
processos abertos contra as
companhias pelo caos durante o apagão nos aeroportos, em 2006.
A demora, além de postergar punições por cancelamentos de voos e overbooking, levou a Agência Nacional de Aviação Civil, criada
em 2006, a receber só 17,5%
das multas dadas até 2009.
Foram 10.293 autuações.
Em termos comparativos,
a Anatel (Agência Nacional
de Telecomunicações) recebeu no período 82,6% das
multas, a ANA (Agência Nacional de Águas), 72,5% e a
Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária), 65,8%.
Segundo o TCU (Tribunal
de Contas da União), entraram nos cofres da Anac apenas R$ 9,8 milhões das multas do período, com um desempenho que, entre as
agências, só fica à frente da
ANS (Agência Nacional de
Saúde) e da Ancine (cinema).
Com as novas regras, que
passaram a vigorar dia 13, a
Anac tornou mais ágil a devolução do valor do bilhete
quando o passageiro desiste
de uma viagem em atraso.
LENTIDÃO
Caso a Anac mantenha esse ritmo, quem for prejudicado agora corre o risco de só
ver a companhia punida por
volta de 2014, perto da Copa
do Mundo no Brasil.
Para a aluna de psicologia
Mariana Cicolo Lacaze, 24,
passaram-se três anos sem
que tenha visto punida a
companhia que a deixou dois
dias, entre idas e vindas da
casa da mãe, em Goiânia
(GO), e o aeroporto. Ela tentava embarcar para São Paulo.
Com a passagem marcada
para as 18h de um domingo,
ela, o irmão e um casal de
amigos só conseguiram chegar em casa, em São Paulo,
na quarta-feira seguinte.
"No primeiro dia, disseram que a gente embarcaria à
1h da segunda-feira, depois
ficou para as 8h. Entramos
no avião na noite de terça, aí
não pudemos aterrissar em
Cumbica e fomos até Viracopos [Campinas]. Não tinha
escada, e ficamos uma hora e
meia esperando até descermos", lembra.
Irritado, o grupo buscou
dois caminhos: uma ação na
Justiça e uma reclamação na
Anac, que só no último dia 2
julgou um recurso da Gol
contra a multa de R$ 7.000,
que foi rejeitado.
Em processos internos da
Anac, a Folha encontrou casos originados até em 2005. O
Judiciário, no caso de Mariana, foi mais ágil. "Vencemos
a ação na Justiça, mas a empresa recorreu", diz.
O quadro mostra que persiste a impunidade contra
empresas que prejudicam
usuários, diz Walter Moura,
secretário-geral do Brasicon
(Instituto Brasileiro de Direito e Política do Consumidor).
"As regras saem, mas não
dá em nada para o setor privado. Isso tem um viés antipedagógico para as empresas. Se não há multa, por que
ela vai melhorar o serviço?",
diz Moura.
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