São Paulo, domingo, 20 de junho de 2010

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OPINIÃO

Parceiros da Educação: aplaudir ou lamentar?

Projeto suscita reflexões sobre a atribuição do Estado na educação


NÃO SERIA UMA MANEIRA DE REMEDIAR FALHA DO PODER PÚBLICO NA PROMOÇÃO DE UM ENSINO DE QUALIDADE?


SILVIA COLELLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Temos que aplaudir quando segmentos da sociedade se preocupam com a educação pública, comprometendo-se com formação integral dos alunos e, consequentemente, com fortalecimento da sociedade democrática.
É o caso do Parceiros da Educação, no qual empresários lidam com as dificuldades do ensino, investindo em quatro frentes: infraestrutura, gestão, desempenho pedagógico e integração da escola com a comunidade.
Se é verdade que contribui para a boa imagem das empresas, é igualmente verdadeiro que as maiores beneficiadas são as escolas. Os resultados são imediatos e muito significativos. Em sete meses de 2009, houve aproveitamento 34% maior dos alunos do ensino médio.
No fundamental, o índice aparentemente tímido de 8,9% na evolução geral das disciplinas incorpora o crescimento notável de 70% nas médias de língua portuguesa nas duas primeiras séries.
Dois fatores parecem explicar essa eficiência. Em primeiro lugar, as intervenções dos Parceiros da Educação, balizadas pelo diagnóstico da escola, costumam incidir sobre necessidades da instituição ou dos alunos.
Em segundo, a natureza das intervenções, que recentemente vem priorizando o apoio pedagógico, em especial, a formação do professor.
Embora não se desconsidere contribuições à infraestrutura, é na qualidade da prática de ensino que o investimento se faz mais significativo.
Independentemente dos méritos, o projeto suscita reflexões sobre a responsabilidade do Estado na garantia da educação básica. Embora não pretenda se configurar como uma medida assistencialista, não seria um modo de remediar o fracasso do poder público na promoção do ensino de qualidade?
Uma vez dependentes do setor privado, não estariam as escolas à mercê das iniciativas de boa vontade que podem ser canceladas ao final dos cinco anos previstos? Finalmente, resta lamentar pelas escolas que não tiveram este tipo de benefício: até quando vamos nos conformar com escolas pichadas, instalações precárias, desajustes administrativos e professores desmotivados?

SILVIA M. GASPARIAN COLELLO é docente da Faculdade de Educação da USP


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