São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 2006

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Cristian muda, de novo, versão do crime

Irmão de Daniel, ex-namorado de Suzane, assumiu ter participado da morte dos pais dela, Manfred e Marísia von Richthofen

Ministério Público foi quem pediu o novo depoimento do réu sob a alegação de que a pena dele poderia diminuir se confessasse

André Porto/Folha Imagem
Suzane von Richthofen deixa algemada, em um carro da polícia, a delegacia onde passou a noite para voltar ao julgamento no fórum da Barra Funda, em São Paulo


DA REPORTAGEM LOCAL EM SÃO PAULO

De modo inesperado, o réu Cristian Cravinhos iniciou ontem às 22h um depoimento em que confessou ter mentido na segunda-feira, quando depôs pela primeira vez no 1º Tribunal de Júri. O irmão mais velho de Daniel, ex-namorado de Suzane, assumiu, dessa vez, ter participado da morte dos pais dela, Manfred e Marísia von Richthofen.
O Ministério Público foi quem pediu o novo depoimento de Cristian sob a alegação de que a pena diminuiria de dois a quatro anos se ele confessasse.
Anteontem, a perita criminal Jane Marisa Belucci derrubou a versão de que só Daniel tinha desferido os golpes. Segundo ela, os ferimentos foram provocados simultâneamente.
Chorando e muito nervoso, Cristian responsabilizou Suzane por ter tramado a morte dos pais e disse que até o último momento tentou impedir o casal de consumar o duplo homicídio. Ele ficou de mãos dadas com um dos promotores do caso, Nadir Campos Júnior.
Após cerca de 20 minutos, chorando de maneira descontrolada, Cristian interrompeu o depoimento e foi abraçado por seu pai, que subiu ao plenário do júri para consolá-lo. Algumas pessoas na platéia também choraram. Os jurados foram retirados do local, a pedido do Ministério Público, e a sessão foi suspensa por minutos.
Cristian disse que em julho de 2002 Suzane lhe perguntou se ele a ajudaria a matar os pais dela. ""Ela se referiu aos pais de maneira extremamente negativa, disse que não suportava os pais porque não tinha vida, eles não a deixavam fazer nada. Ela falou que com 13 anos o pai tentou estuprá-la e que o casamento dos pais era de fachada", afirmou, ressaltando que repetia o que havia ouvido de Suzane. "Ela disse que o único meio de ficar em paz era se os pais dela não existissem." Cristian disse ter sugerido que ela procurasse a polícia, mas a jovem teria respondido que não adiantaria porque o pai era influente.
Segundo Cristian, no dia do crime Daniel o procurou, desesperado, e pediu que ele o ajudasse a cometer o crime. "Eu disse "meu, não faz isso, procura a polícia, dá um murro nele [Manfred], mas não faz isso", relatou.
De acordo com Cristian, Daniel disse que amava Suzane e que não desistiria e ameaçou fazer tudo sozinho. Ele então combinou de encontrar o irmão mais tarde na lan house onde o casal levara Andreas. "Suzane estava muito calma. No meio do caminho [para a casa dos pais dela] parecia que era o dia mais feliz da vida dela."
Cristian disse que os três subiram as escadas e ele e Daniel entraram no quarto. ""Eu fiquei de frente para o Daniel, fiz sinal de negativo com a cabeça. Ele deu a primeira e eu também fiz", contou. ""Peço perdão a Deus e até a Suzane pelo que fiz. Hoje tenho certeza que a mãe dela não era tão ruim assim, nem o pai."
Ele disse que dias depois Suzane foi à sua casa e ele começou a chorar. ""Eu chorei, o Daniel chorou, só a Suzane não chorava. Ela disse "calma, Cris, você não me tirou nada, você me deu uma vida nova"."
Após o novo depoimento, a defesa de Suzane anunciou que hoje pedirá ao juiz Alberto Anderson Filho a nulidade do julgamento, sob a justificativa de que Cristian deixou o plenário abraçado ao pai, e não escoltado, como determina a lei.
À Folha, o juiz disse que, se receber o pedido, não o acatará, por entender que não há justificativa para a anulação. "No papel cabe tudo, mas eu não vou deferir esse pedido", disse.
Cerca de 30 minutos após o fim do terceiro dia de julgamento, o pai dos Cravinhos, Astrogildo, disse a dois amigos que agora Suzane terá que contar a verdade. "Ela vai abrir o jogo. Ela está vendo o que está acontecendo", disse ele enquanto fumava na porta de um dos banheiros do fórum.
À tarde, a mãe dos irmãos, Nadja Cravinhos, chorou, elogiou os filhos e atacou Suzane. "Uma mulher pode levar um homem ao sucesso e à glória ou à desgraça total. Ela manipulou meu filho, fazendo dele um instrumento durante todo o tempo que conviveram."
Ela disse ainda ter ouvido de Cristian, na prisão, que ele não tinha feito nada. (LUÍSA BRITO, SERGIO TORRES E LAURA CAPRIGLIONE)

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