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Cristian muda, de novo, versão do crime
Irmão de Daniel, ex-namorado de Suzane, assumiu ter participado da morte dos pais dela, Manfred e Marísia von Richthofen
Ministério Público foi quem pediu o novo depoimento do réu sob a alegação de
que a pena dele poderia diminuir se confessasse
André Porto/Folha Imagem
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Suzane von Richthofen deixa algemada, em um carro da polícia, a delegacia onde passou a noite para voltar ao julgamento no fórum da Barra Funda, em São Paulo |
DA REPORTAGEM LOCAL EM SÃO PAULO
De modo inesperado, o réu
Cristian Cravinhos iniciou ontem às 22h um depoimento em
que confessou ter mentido na
segunda-feira, quando depôs
pela primeira vez no 1º Tribunal de Júri. O irmão mais velho
de Daniel, ex-namorado de Suzane, assumiu, dessa vez, ter
participado da morte dos pais
dela, Manfred e Marísia von
Richthofen.
O Ministério Público foi
quem pediu o novo depoimento de Cristian sob a alegação de
que a pena diminuiria de dois a
quatro anos se ele confessasse.
Anteontem, a perita criminal
Jane Marisa Belucci derrubou
a versão de que só Daniel tinha
desferido os golpes. Segundo
ela, os ferimentos foram provocados simultâneamente.
Chorando e muito nervoso,
Cristian responsabilizou Suzane por ter tramado a morte dos
pais e disse que até o último
momento tentou impedir o casal de consumar o duplo homicídio. Ele ficou de mãos dadas
com um dos promotores do caso, Nadir Campos Júnior.
Após cerca de 20 minutos,
chorando de maneira descontrolada, Cristian interrompeu o
depoimento e foi abraçado por
seu pai, que subiu ao plenário
do júri para consolá-lo. Algumas pessoas na platéia também
choraram. Os jurados foram retirados do local, a pedido do
Ministério Público, e a sessão
foi suspensa por minutos.
Cristian disse que em julho
de 2002 Suzane lhe perguntou
se ele a ajudaria a matar os pais
dela. ""Ela se referiu aos pais de
maneira extremamente negativa, disse que não suportava os
pais porque não tinha vida, eles
não a deixavam fazer nada. Ela
falou que com 13 anos o pai tentou estuprá-la e que o casamento dos pais era de fachada", afirmou, ressaltando que repetia o
que havia ouvido de Suzane.
"Ela disse que o único meio de
ficar em paz era se os pais dela
não existissem." Cristian disse
ter sugerido que ela procurasse
a polícia, mas a jovem teria respondido que não adiantaria
porque o pai era influente.
Segundo Cristian, no dia do
crime Daniel o procurou, desesperado, e pediu que ele o
ajudasse a cometer o crime.
"Eu disse "meu, não faz isso,
procura a polícia, dá um murro
nele [Manfred], mas não faz isso", relatou.
De acordo com Cristian, Daniel disse que amava Suzane e
que não desistiria e ameaçou
fazer tudo sozinho. Ele então
combinou de encontrar o irmão mais tarde na lan house
onde o casal levara Andreas.
"Suzane estava muito calma.
No meio do caminho [para a casa dos pais dela] parecia que era
o dia mais feliz da vida dela."
Cristian disse que os três subiram as escadas e ele e Daniel
entraram no quarto. ""Eu fiquei
de frente para o Daniel, fiz sinal
de negativo com a cabeça. Ele
deu a primeira e eu também
fiz", contou. ""Peço perdão a
Deus e até a Suzane pelo que
fiz. Hoje tenho certeza que a
mãe dela não era tão ruim assim, nem o pai."
Ele disse que dias depois Suzane foi à sua casa e ele começou a chorar. ""Eu chorei, o Daniel chorou, só a Suzane não
chorava. Ela disse "calma, Cris,
você não me tirou nada, você
me deu uma vida nova"."
Após o novo depoimento, a
defesa de Suzane anunciou que
hoje pedirá ao juiz Alberto Anderson Filho a nulidade do julgamento, sob a justificativa de
que Cristian deixou o plenário
abraçado ao pai, e não escoltado, como determina a lei.
À Folha, o juiz disse que, se
receber o pedido, não o acatará,
por entender que não há justificativa para a anulação. "No
papel cabe tudo, mas eu não
vou deferir esse pedido", disse.
Cerca de 30 minutos após o
fim do terceiro dia de julgamento, o pai dos Cravinhos,
Astrogildo, disse a dois amigos
que agora Suzane terá que contar a verdade. "Ela vai abrir o
jogo. Ela está vendo o que está
acontecendo", disse ele enquanto fumava na porta de um
dos banheiros do fórum.
À tarde, a mãe dos irmãos,
Nadja Cravinhos, chorou, elogiou os filhos e atacou Suzane.
"Uma mulher pode levar um
homem ao sucesso e à glória ou
à desgraça total. Ela manipulou
meu filho, fazendo dele um instrumento durante todo o tempo que conviveram."
Ela disse ainda ter ouvido de
Cristian, na prisão, que ele não
tinha feito nada.
(LUÍSA BRITO, SERGIO TORRES E LAURA CAPRIGLIONE)
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