São Paulo, sexta-feira, 20 de julho de 2007

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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/VÍTIMAS

Sobrevivente convenceu colega a não pular do prédio

Wanderley Ferreira Silva trabalhava no galpão da TAM e escapou do incêndio

Funcionário de empresa de tecnologia se restabelece de uma intoxicação por gases e queimaduras superficiais no rosto e nos membros

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um estrondo interrompeu bruscamente, na última terça-feira, o expediente do gerente de projeto Wanderley Ferreira Silva, 33, que trabalha para uma empresa de tecnologia no terceiro andar do galpão da TAM Express. Em instantes, o ambiente foi tomado por uma espessa fumaça, e Silva já não enxergava os oito colegas que estavam na mesma sala, apenas ouvia muitos gritos de "Socorro, me ajuda!".
"As pessoas corriam em todas as direções, tentando achar uma saída possível no meio da fumaça. Percebi na hora, pelo barulho e o impacto, que um avião tinha caído ali", lembra o sobrevivente da tragédia, que se restabelece de intoxicação por gases e queimaduras superficiais no rosto e membros, segundo diagnóstico do coordenador clínico do hospital São Luiz, Sebastião Vasconcellos.
"Ele sofreu uma complicação respiratória por inalação de fumaça, que pode ter provocado queimadura na árvore brônquica. Não há remédio específico para um caso assim, a recuperação se dá com suporte clínico", explica o médico.
Logo depois da primeira explosão, no pânico do desencontro, Silva conseguiu avistar um colega que o acompanhou até um laboratório do prédio, cuja janela dá para a avenida Washington Luiz. "Abaixamos para respirar, demos as mãos um para o outro e seguimos sem saber direito para onde estávamos indo, até chegar à janela."
Ali, sem poder encostar nas esquadrias por causa do calor intenso, eles jogaram cadeiras nos vidros para quebrá-los.
Em uma das vezes em que se emocionou na entrevista coletiva que deu ontem, no hospital, Silva agradeceu, com a voz embargada, o "incansável trabalho dos bombeiros".
"Eles nos tranqüilizaram, nos instruíram a tirar a camisa e enrolar no rosto, para filtrar a fumaça, e fizeram o impossível para nos alcançar. Foi um resgate fantástico", lembra.
Num primeiro momento, a escada-magirus chegou apenas até o primeiro andar do prédio.
"Às vezes, perdíamos a escada de vista, e ficávamos mais angustiados, imaginando que os bombeiros estavam ocupados com resgates em outro ponto do prédio", lembra.
Wanderley diz que o colega, Paulo Zani, que também sobreviveu, falou em se jogar.
"Eu disse: "Aguenta mais um pouco, agüenta". Naquele instante, olhei para o céu da janela e vi que a vida estava chegando no limite. Eu só queria um pouco de ar", conta.
Embaixo, na avenida interditada, moradores que acompanhavam o resgate gritavam para que eles não pulassem.
Retrospectivamente, Silva reconhece que, apesar de ter dado força para o amigo, ele próprio não resistiria muito. "Agora, eu vejo que, mais um pouco naquela temperatura, e nós não teríamos sobrevivido."

O salvamento
Não chegou a ser um dilema, mas quando finalmente a escada alcançou o terceiro andar, Zani e Silva tinham de decidir quem iria primeiro. "Eu fui, porque estava mais próximo da primeira escada. Mas a outra logo o resgatou", conta.
Assim que chegou no solo, Silva, que deixou laptop, celular e carteira com documentos em sua mesa de trabalho, só pensava em agradecer os bombeiros.
Casado, pai de três filhas de 13, 12 e 7 anos, ele mora em Araraquara, de onde sua mulher, a vendedora Roberta Aparecida Quadreli, 31, recebia angustiada as primeiras notícias.
"A princípio, achava que ele não estava no lugar do fogo. Um amigo que trabalhou com ele disse, para me tranqüilizar, que a sala era do outro lado do prédio e que não tinha sido atingida. Mas aí um vizinho que acompanhou tudo veio me dizer que ele estava, sim, no local. Aí eu fiquei desesperada."
O terror durou cerca de 40 minutos, as crianças chorando, até que esse amigo conseguiu falar com Zani no celular, e ele informou do resgate. "Só fiquei tranqüila quando o colocaram para falar comigo ao telefone, do hospital", conta
Evangélico, Silva atribui o sucesso de seu salvamento a Deus. "Corri para o lado certo, foi Ele que me ajudou", diz.


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