São Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

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Trem turístico vai reativar ligação SP-Paranapiacaba

Valor da passagem ainda não está definido, mas ficará abaixo de R$ 30; CPTM desativou trem diário a Paranapiacaba em 2002

Início deve ocorrer em setembro ou outubro; trajeto sairá da estação da Luz

RICARDO GALLO
DA REDAÇÃO

Um trem turístico vai reativar a ligação entre São Paulo e Paranapiacaba, única vila ferroviária do país a manter as mesmas características de quando foi construída, no século 19. A operação deve começar em setembro ou outubro.
O percurso, de 48 km, será da estação da Luz a Paranapiacaba, distrito de Santo André (ABC), e vai durar 70 minutos. O projeto prevê inicialmente uma viagem, aos domingos -a intenção, depois, é expandir horários e oferecer o passeio também aos sábados. Haverá uma parada em Santo André.
Dois trens Budd, para 178 passageiros no total, farão o trajeto. O valor da passagem ainda não está definido, mas será inferior a R$ 30, afirmou João Paulo de Jesus Lopes, secretário-adjunto de Estado dos Transportes Metropolitanos, responsável pelo projeto. O investimento será de R$ 300 mil.
Coordenado pelo governo do Estado, o projeto quer restabelecer o acesso ferroviário a Paranapiacaba, interrompido em 2002 -quando a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) desativou a linha regular por falta de demanda.
"Hoje, se chega à vila de ônibus, o que nos parece um contra-senso", afirmou Lopes.
No passeio, monitores falarão da SPR (São Paulo Railway), que construiu a ferrovia de SP a Santos de 1860 a 1867. Ficava em Paranapiacaba -moradia dos trabalhadores- o principal desafio: um desnível de 800 m entre a serra e o mar, vencido por meio da tração com cabos de aço.
Na vila, os turistas poderão, entre outros, visitar o Castelinho, casa do engenheiro-chefe da SPR, e o museu funicular.
Integrante do projeto, a Prefeitura de Santo André vai reformar a estação de trem de Paranapiacaba. A prefeitura comprou a vila da União em 2002.
Segundo a subprefeita Vanessa Figueiredo, Paranapiacaba está preparada para receber turistas -além do circuito monitorado, há 174 pousadas; há seis anos, não havia nenhuma.
Entre o público-alvo do passeio estão turistas, muitos do exterior, que já visitam a estação da Luz. Com cerca de 1.400 moradores, a vila recebe 4.000 pessoas aos finais de semana.

Revisão
As composições estão em revisão em uma oficina da CPTM. Elas foram cedidas ao Estado pela ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) e estavam no museu do Imigrante (Mooca, zona leste).
Segundo Fábio Barbosa, diretor da ABPF, os trens serviram, no passado, à Estrada de Ferro Araraquara e estão em bom estado. Precisam só de revisão mecânica e hidráulica.
Um dos trens é de primeira classe, com poltronas individuais e reclináveis; o outro, de segunda classe, tem bancos inteiriços, estofados.
Para circular, o trem vai aproveitar a linha 10-turquesa da CPTM (Luz-Rio Grande da Serra). De lá, usará a linha da MRS, que detém a concessão do transporte de cargas na área.
Não há necessidade de reformas na linha, segundo Lopes -daí a idéia de iniciar a operação em 60 ou 90 dias. O governo disse que enviou o pedido de autorização à MRS na semana passada. Anteontem, a empresa disse que não o havia recebido. A implantação requer ainda o aval da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), que disse ser, "a princípio", favorável ao projeto.
Moradora da casa número um da vila há 70 anos, Francisca Araújo, 78, diz querer de volta a vila inglesa da infância. "Vila ferroviária sem trem não dá."


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