São Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

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SAÚDE / COLESTEROL

Uso de remédios em crianças com colesterol alto é polêmico

Médicos americanos liberam drogas preventivas para crianças acima dos oito anos

Pediatras brasileiros indicam medicamentos a partir dos dez anos, mas só para crianças que sofram de hipercolesterolemia familiar

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Tratar ou não com remédios crianças que tenham níveis altos de colesterol? Essa questão está dividindo a opinião de médicos desde que a Academia Americana de Pediatria (AAP) decidiu, há duas semanas, que sim, os pequenos acima de oito anos devem ser medicados com drogas que reduzam o colesterol (estatinas) para prevenir doenças cardíacas.
Um pouco mais conservadores, os pediatras brasileiros indicam medicamentos a partir dos dez anos, mas apenas para crianças com uma doença genética chamada hipercolesterolemia familiar, que eleva os níveis de colesterol, independentemente do estilo de vida. Para as demais, eles defendem uma dieta equilibrada associada a exercícios físicos.
A cautela tem justificativa, segundo o pediatra Paulo Solberg, do departamento de endocrinologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. Não existem dados a longo prazo sobre o uso das estatinas em crianças nem estudos mostrando que, usando a medicação precocemente, elas estarão mais protegidas do que aquelas que iniciaram a terapia na vida adulta.
Nicolas Stettler, professor assistente de epidemiologia pediátrica do Hospital Infantil da Filadélfia (EUA), que participou das novas diretrizes americanas, diz que há dados com níveis de segurança adequados para justificar as medidas.
"Sabemos que, em adultos, diminuir o colesterol e administrar algumas dessas drogas reduz o risco de doenças cardíacas e morte. Então não há razão para pensar que seria diferente com crianças", afirma.
O médico Álvaro Nagib Atallah, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e diretor do Centro Cochrane do Brasil, discorda. Para ele, não há evidências de que o uso dessas drogas na infância, mesmo que reduzam colesterol, diminuam os riscos de doenças cardiovasculares na meia idade ou em qualquer outra época da vida. "O tratamento a longo prazo me causa arrepio."
Já o cardiologista do InCor (Instituto do Coração) Raul Dias dos Santos avalia que os estudos disponíveis mostram que, tratando as crianças com hipercolesterolemia familiar precocemente, consegue-se diminuir a progressão da aterosclerose [uma doença inflamatória crônica da parede das artérias]. "Mas não necessariamente significa que vamos conseguir prevenir um infarto quando essas crianças se tornarem adultas", explica.
Ele defende o uso das estatinas, a partir dos dez anos, em crianças que sofrem de hipercolesterolemia. "Nessas pessoas, você não consegue abaixar o colesterol com perda de peso ou mudança na dieta."
Uma outra preocupação de Paulo Solberg é que, medicando as crianças, elas deixem de lado as mudanças no estilo de vida necessárias para prevenir as doenças cardiovasculares. "O medo é que elas só tomem o comprimido e não façam o controle alimentar e os exercícios."


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