São Paulo, terça-feira, 20 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE

Jornalista de 21 anos queria perder excesso de peso adquirido na gravidez da filha, que nasceu há quatro meses; conselho vai investigar

Mulher entra em coma após lipoaspiração

SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

O Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro) anunciou que abrirá sindicância para apurar o que causou o coma de uma jovem de 21 anos que fez uma lipoaspiração na quinta-feira e desde então está em estado grave no CTI (Centro de Tratamento Intensivo) na Policlínica de Botafogo (zona sul).
O cirurgião plástico Ricardo da Costa Cunha, membro-titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, que operou Renata Siqueira Nassif, disse não saber o que pode ter causado o coma.
Renata se internou na quinta-feira para realizar uma cirurgia de lipoaspiração no abdômen e nas costas. Ela queria perder o excesso de peso adquirido na gravidez de Eduarda, de quatro meses.
Segundo Cunha, a jornalista recebeu uma anestesia geral para que as costas pudessem ser lipoaspiradas. A seguir, uma anestesia peridural foi aplicada para o procedimento na barriga. O médico disse que a aplicação de duas anestesias é necessária para que a paciente fique o menor tempo possível sob o efeito da anestesia geral, que representa um risco maior do que a peridural.
Após uma hora e dez minutos de cirurgia, a paciente sofreu uma hipossistolia (redução dos batimentos cardíacos), o que obrigou a equipe a interromper a operação. Ela recebeu massagem cardíaca, foi entubada e passou a respirar com a ajuda de aparelhos.
"Esses procedimentos permitiram que os batimentos cardíacos se normalizassem. Suturamos a paciente e esperamos que ela acordasse da cirurgia, o que não aconteceu." Só então constataram que ela havia evoluído para um quadro de coma. "Não sabemos o que aconteceu. Há dias não consigo dormir, tentando encontrar uma razão para isso tudo."
O cirurgião contou que está reavaliando todo os procedimentos cirúrgicos e as informações prestadas pela paciente no relatório ao qual respondeu antes da cirurgia.
O médico disse que Renata omitiu informações nas consultas. Uma delas é o fato de a jornalista ter tido pré-eclâmpsia (picos de pressão alta) na gestação. Ela também teria dito que não estava mais amamentando o filho, o que foi negado pela família. Ele também disse ter sido informado de que ela fazia uso de medicamentos para emagrecer, o que foi omitido no relatório e negado pela família. "Quando ela me procurou, disse que não a operaria enquanto estivesse amamentando. Um mês depois, ela pediu nova consulta e afirmou que havia deixado de amamentar." Os exames pré-operatórios não acusaram nenhuma anormalidade que pudesse impedir a cirurgia, disse o médico.
O marido de Renata, Eduardo Nassif, 28, que era contra a cirurgia, disse que a mulher estava obcecada com a idéia de emagrecer, pois tinha medo de perdê-lo. A família da jornalista também a desaconselhou a fazer a cirurgia.
Para Nassif, o médico foi irresponsável em aceitar a cirurgia. "Queremos saber se foi fatalidade ou erro médico. No caso de ter havido erro, vamos à Justiça."
Boletim médico divulgado na noite de ontem afirma que Renata sofreu lesão cerebral.
O diretor da clínica, Ricardo Caratta, disse que a Policlínica de Botafogo não se responsabiliza pelo caso, pois apenas cedeu o centro cirúrgico para a cirurgia.


Texto Anterior: Há 50 anos
Próximo Texto: Sindicâncias apuram falhas em clínicas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.