São Paulo, sexta-feira, 20 de agosto de 2004

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CANDELÁRIA PAULISTA

Três foram mortos e sete ficaram feridos depois de terem sido agredidos com golpes na cabeça

Moradores de rua sofrem ataque em série

VICTOR RAMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O maior ataque contra moradores de rua já registrado em São Paulo ocorreu na madrugada de ontem no coração da cidade, ao lado de símbolos tradicionais como o fórum João Mendes e a catedral da Sé. Três homens foram mortos e outros sete ficaram gravemente feridos após terem sido agredidos com golpes na cabeça.
Segundo o Hospital do Servidor Municipal, para onde foi a maioria das vítimas, todos os sobreviventes correm risco de morte. De acordo com laudos do IML (Instituto Médico Legal), foram utilizados "instrumentos contundentes" como paus e marretas.
Todas as vítimas foram encontradas na mesma região, próximas à praça da Sé. Até o fechamento desta edição, a polícia não tinha pistas dos criminosos.
A chacina de ontem é considerada por entidades como a Pastoral do Povo de Rua e a Secretaria Municipal da Assistência Social como o mais grave caso na capital paulista contra moradores de rua.
O crime está sendo investigado pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). A única testemunha ouvida pela polícia, no entanto, estava embriagada e nada informou sobre os acontecimentos da noite.

Ação de extermínio
O padre Julio Lancellotti, da pastoral, cobrou da polícia a eficácia e a rapidez nas investigações como se "tivesse havido uma chacina nos Jardins". A secretária de Assistência Social, Aldaíza Sposati, classificou os crimes como uma ação de "extermínio".
Os moradores de rua foram sendo encontrados no início da manhã, todos com traumatismo craniano. O primeiro agredido a dar entrada no Hospital do Servidor Público Municipal chegou lá às 4h35, e morreu 30 minutos depois, sem ser identificado.
A partir das 7h12, foram chegando, uma a uma, outras cinco vítimas, em condições muito semelhantes, todas encontradas na região central da cidade. Lancellotti classificou esses momentos como uma "seqüência macabra".
Na Santa Casa, por volta das 8h30, duas pessoas foram atendidas com traumatismo craniano, uma delas identificada como Daniel Gomes Sousa, 44. Só no início da noite de ontem a Secretaria de Segurança Pública confirmou que os casos podem ter ligação.
As dez vítimas das agressões eram homens. Além de Sousa, apenas Messias Rodrigues Moreira, que sobreviveu, e Cosme Rodrigues Machado, 56, que morreu, foram identificados.
O primeiro morador de rua agredido foi encontrado na rua São Bento, e chegou ao hospital às 4h35. Em seguida, outros dois foram encontrados na praça da Sé, dando entrada no hospital às 7h12 e às 7h26. Pouco depois, foram encontradas vítimas nas ruas da Glória e XV de Novembro.
Esse último, chegou ao hospital ainda consciente e se identificou como Messias Rodrigues Moreira. Ele disse para os médicos que estava dormindo e que não se lembra do que aconteceu.
Na rua Tabatingüera e na praça João Mendes, também na região central, foram encontrados, por volta das 7h, os únicos dois moradores que morreram no local. Um deles foi identificado como Cosme Rodrigues Machado, 56.
O outro era um travesti, encontrado na esquina da rua com a praça, conhecido como Pantera. Próximo aos dois, também na Tabatingüera, um terceiro morador foi agredido, mas sobreviveu.
Giovanni di Sarno, superintendente do hospital, afirmou nunca ter presenciado uma situação como essa. Ele informou que dois dos pacientes passaram por neurocirurgias no local e outros dois foram transferidos para o hospital Ermelino Matarazzo.
Para Lancellotti, os ferimentos indicam que não deve ter havido briga, uma vez que os braços não haviam sido machucados.


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