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CANDELÁRIA PAULISTA
Três foram mortos e sete ficaram feridos depois de terem sido agredidos com golpes na cabeça
Moradores de rua sofrem ataque em série
VICTOR RAMOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O maior ataque contra moradores de rua já registrado em São
Paulo ocorreu na madrugada de
ontem no coração da cidade, ao
lado de símbolos tradicionais como o fórum João Mendes e a catedral da Sé. Três homens foram
mortos e outros sete ficaram gravemente feridos após terem sido
agredidos com golpes na cabeça.
Segundo o Hospital do Servidor
Municipal, para onde foi a maioria das vítimas, todos os sobreviventes correm risco de morte. De
acordo com laudos do IML (Instituto Médico Legal), foram utilizados "instrumentos contundentes" como paus e marretas.
Todas as vítimas foram encontradas na mesma região, próximas à praça da Sé. Até o fechamento desta edição, a polícia não
tinha pistas dos criminosos.
A chacina de ontem é considerada por entidades como a Pastoral do Povo de Rua e a Secretaria
Municipal da Assistência Social
como o mais grave caso na capital
paulista contra moradores de rua.
O crime está sendo investigado
pelo DHPP (Departamento de
Homicídios e Proteção à Pessoa).
A única testemunha ouvida pela
polícia, no entanto, estava embriagada e nada informou sobre
os acontecimentos da noite.
Ação de extermínio
O padre Julio Lancellotti, da
pastoral, cobrou da polícia a eficácia e a rapidez nas investigações
como se "tivesse havido uma chacina nos Jardins". A secretária de
Assistência Social, Aldaíza Sposati, classificou os crimes como uma
ação de "extermínio".
Os moradores de rua foram
sendo encontrados no início da
manhã, todos com traumatismo
craniano. O primeiro agredido a
dar entrada no Hospital do Servidor Público Municipal chegou lá
às 4h35, e morreu 30 minutos depois, sem ser identificado.
A partir das 7h12, foram chegando, uma a uma, outras cinco
vítimas, em condições muito semelhantes, todas encontradas na
região central da cidade. Lancellotti classificou esses momentos
como uma "seqüência macabra".
Na Santa Casa, por volta das
8h30, duas pessoas foram atendidas com traumatismo craniano,
uma delas identificada como Daniel Gomes Sousa, 44. Só no início
da noite de ontem a Secretaria de
Segurança Pública confirmou que
os casos podem ter ligação.
As dez vítimas das agressões
eram homens. Além de Sousa,
apenas Messias Rodrigues Moreira, que sobreviveu, e Cosme Rodrigues Machado, 56, que morreu, foram identificados.
O primeiro morador de rua
agredido foi encontrado na rua
São Bento, e chegou ao hospital às
4h35. Em seguida, outros dois foram encontrados na praça da Sé,
dando entrada no hospital às 7h12
e às 7h26. Pouco depois, foram
encontradas vítimas nas ruas da
Glória e XV de Novembro.
Esse último, chegou ao hospital
ainda consciente e se identificou
como Messias Rodrigues Moreira. Ele disse para os médicos que
estava dormindo e que não se
lembra do que aconteceu.
Na rua Tabatingüera e na praça
João Mendes, também na região
central, foram encontrados, por
volta das 7h, os únicos dois moradores que morreram no local. Um
deles foi identificado como Cosme Rodrigues Machado, 56.
O outro era um travesti, encontrado na esquina da rua com a
praça, conhecido como Pantera.
Próximo aos dois, também na Tabatingüera, um terceiro morador
foi agredido, mas sobreviveu.
Giovanni di Sarno, superintendente do hospital, afirmou nunca
ter presenciado uma situação como essa. Ele informou que dois
dos pacientes passaram por neurocirurgias no local e outros dois
foram transferidos para o hospital
Ermelino Matarazzo.
Para Lancellotti, os ferimentos
indicam que não deve ter havido
briga, uma vez que os braços não
haviam sido machucados.
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