São Paulo, sexta-feira, 20 de agosto de 2004

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Entidades marcam missa e cobram apuração

LUÍSA BRITO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O ataque a moradores de rua no centro de São Paulo mobilizou várias entidades ligadas ao combate da violência e à proteção dos direitos humanos. Entidades religiosas programaram uma celebração multirreligiosa na praça da Sé, às 15h do próximo domingo, em homenagem às vítimas.
O Ministério Público de São Paulo designou o promotor Carlos Roberto Marangoni Talarico para acompanhar as investigações sobre o caso. O crime chamou a atenção também da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, em Brasília, que já abriu procedimento para monitorar o andamento do inquérito.
De acordo com o chefe da ouvidoria da secretaria, Pedro Montenegro, o governo federal está atento ao caso porque "a dignidade da pessoa humana é um fundamento da República".
Montenegro colocou toda a estrutura do órgão, incluindo o programa de proteção a testemunhas, à disposição das autoridades paulistas. Ele reforçou ainda a necessidade de se identificar os autores do crime como uma forma de impedir que o ato "se alastre a toda a sociedade".
A OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil) também anunciou que irá acompanhar as investigações policiais. O vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da entidade, Hédio Silva Júnior, pretende começar a ouvir as vítimas que estão hospitalizadas hoje. Ele também deve visitar o delegado designado para apurar o crime, Luiz Fernando Lopes Teixeira.
Em comunicado à imprensa, o presidente da OAB-SP, Luiz Flávio Borges D'Urso, nominou o episódio de "marco da barbárie" e afirmou repudiar o que classificou de "violência inominável".
O padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, afirmou que a instituição vai agir em conjunto com o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) para descobrir o que aconteceu na noite do crime e encontrar os culpados.
Para Camila Giorgetti, doutora em sociologia pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris (França) e pela PUC-SP, há uma tendência higienista da população de São Paulo em relação aos mendigos. "Algumas pessoas ligam os moradores de rua à idéia de vagabundo, parasita e bêbado."
Segundo a pesquisadora, que estudou o assunto durante cinco anos em sua tese de doutorado, o poder público deve investir em uma política social para combater esse preconceito.
Na opinião do cientista político e secretário-executivo da ONG Instituto São Paulo contra a Violência Paulo de Mesquita, o assassinato dos moradores de rua foi uma arbitrariedade e grande violação aos direitos humanos. Mesquita pede que informações que possam ajudar nas investigações sejam passadas ao Disque-Denúncia, serviço gratuito pelo telefone 0800-156315. "É necessário descobrir os culpados e puni-los."


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