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17% das jovens fizeram aborto, diz estudo
Dos homens entrevistados, 45,9% tiveram namoradas que interromperam a primeira gravidez; trabalho ouviu 4.634 pessoas
Pesquisa aponta que as mulheres com renda e nível escolar mais altos abortam mais vezes do que as de baixa escolaridade e pobres
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
Ilegal no país, o aborto faz
parte da realidade de boa parte
dos adolescentes brasileiros.
Pesquisa realizada com quase
5.000 jovens em três municípios do Brasil (Rio, Salvador e
Porto Alegre) aponta que 16,7%
das adolescentes abortaram o
primeiro filho, e 45,9% dos jovens homens entrevistados tiveram namoradas que interromperam a primeira gravidez.
A pesquisa mostrou ainda
que 15,5% das moças desejaram provocar aborto ao engravidar do primeiro filho, e
11,12% tentaram realizá-lo sem
sucesso. Já entre os rapazes,
20% informaram que desejavam que suas parceiras interrompessem a gravidez.
Para a pesquisadora Greice
Menezes, a diferença entre as
declarações dos rapazes e das
moças sobre a realização do
aborto deve-se a dois fatores
básicos. Primeiro, as meninas
têm problemas em assumir terem recorrido ao aborto. Segundo, os homens podem ter
um maior número de parceiras.
Ainda de acordo com a pesquisadora, ao contrário do que o
"imaginário popular" entende,
quem mais faz abortos são as
jovens de maior renda e escolaridade. A pesquisa apontou que
as mulheres que tinham nível
de escolaridade médio ou superior completo relataram três
vezes mais o desfecho do aborto na primeira gravidez do que
as jovens de baixa escolaridade.
Em relação à renda, as jovens
que vinham de famílias cuja
renda per capita era superior a
um salário mínimo, relataram
ter recorrido ao aborto quatro
vezes mais do que as jovens que
vieram de famílias com renda
inferior a um salário mínimo.
Meninas de maior renda podem se submeter ao procedimento em clínicas particulares
e ter atendimento médico. Já as
mais pobres, segundo a pesquisadora, fazem uso de medicamentos abortivos e chás.
"Os estudos já realizados
nessa área sempre eram feitos
com mulheres que se submetiam a procedimentos de finalização de abortos mal feitos em
hospitais particulares, o que gerava a idéia equivocada de que
eram as mais pobres que faziam, já que só elas procuram
clínicas públicas", disse.
Diferenças de regiões
Greice destacou ainda a diferença entre as capitais pesquisadas. Salvador é o local onde as
meninas se iniciam sexualmente mais tarde, mas há mais
ocorrências de gravidez e, conseqüentemente, abortos: 19%
das meninas e 60,7% dos meninos tiveram namoradas que interromperam a gravidez.
O Rio de Janeiro está em segundo lugar, com 17% das moças e 39,5% dos rapazes. Em
Porto Alegre, capital onde a iniciação sexual ocorre mais cedo,
o aborto é menos usual, com
8,4% das gaúchas e 31% dos rapazes declarando que suas parceiras o fizeram.
A pesquisa Gravad (Gravidez
na Adolescência) gerou o livro
"O Aprendizado da Sexualidade: Reprodução e Trajetórias
Sociais de Jovens Brasileiros"
(536 páginas, R$ 59, Editora
Garamond/Editora Fiocruz),
que será lançado na terça-feira.
O livro reúne os resultados da
pesquisa realizada com 4.634
moças e rapazes com idades entre 18 e 24 anos com perguntas
que retrocedem ao início da
adolescência.
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