São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2006

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GUERRA URBANA

Analistas indicam 15 idéias contra o crime

Bruno Miranda - 20.jul.2006/ Folha Imagem
Penitenciária federal de Catanduvas, no Paraná, que abriga o traficante Fernandinho Beira-Mar e 16 detentos do Pará


Eles concordam que o trabalho em conjunto das forças de segurança é medida indispensável para resultados positivos

Após o 11 de Setembro, a circulação de informações virou prioridade nos EUA; especialistas apostam em soluções caseiras no Brasil

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

A criação de um sistema integrado de informações, que reúna e compartilhe dados das polícias, Ministério Público e Poder Judiciário, é o ponto de partida para deter a escalada do crime no país, apontam especialistas ouvidos pela Folha.
Esse caminho tem sido percorrido com sucesso por países onde as forças de segurança passaram a trabalhar juntas no combate à criminalidade.
Nos EUA, a circulação de informações virou prioridade especialmente após os atentados de 11 de setembro de 2001, em que ficaram evidentes as falhas no compartilhamento de dados sobre os terroristas.
Na falta da tecnologia do Primeiro Mundo, especialistas apontam que é possível lançar mão de soluções caseiras. Em Minas Gerais, por exemplo, há um programa de gestão policial e integração das polícias (Igesp) baseado nas experiências de Nova York e Bogotá.
Houve unificação dos bancos de dados das polícias e a integração do planejamento operacional. O próximo passo será o acesso único às bases de dados. "É comum no Brasil a cultura de cada polícia ter seu banco de dados e não dividi-lo. Mesmo dentro de uma polícia, há setores que não se falam. O pessoal de rua costuma ter informações que os superiores não têm", diz o sociólogo Claudio Beato, professor da Universidade Federal de Minas Gerais.
Em alguns locais, as estratégicas passaram pela centralização da polícia. É o caso da Colômbia, onde não há polícias locais. Segundo o general Óscar Narano, diretor da Polícia Judicial da Colômbia, a centralização das polícias é fundamental no combate ao narcotráfico por exemplo. "As polícias locais são muito frágeis diante do crime organizado. Muitos vivem nos mesmos locais onde moram traficantes", afirma.
Além da integração de informações, o ex-secretário nacional de segurança José Vicente da Silva vê necessidade de capacitação gerencial dos executivos da segurança pública. "Quando se fala em fortalecimento do crime, estamos tratando, na realidade, da ineficiência, na inépcia da polícia."
Para o norte-americano Willian Perry, ex-diretor do Conselho de Segurança Nacional para os assuntos de América Latina do governo de Ronald Reagan (1981-1989), a maneira como o governo trata os policiais, com baixos salários e falta de capacitação, favorece a corrupção, tornando-os presas fáceis do crime organizado.
A despeito desse risco, com qual concorda, José Vicente da Silva considera a força policial o principal recurso para reduzir a curto prazo a violência e diz que a polícia paulista tem feito a lição de casa.
"São Paulo é exemplo de sucesso na modalidade de redução de matança de periferia. Nos últimos cinco anos, o Jardim Ângela teve queda de 48% nos homicídios. No mesmo período, Cleveland (EUA) reduziu 38% esses crimes."
Na opinião do advogado Theodomiro Dias Neto, professor de direito da Fundação Getúlio Vargas, uma política de combate à criminalidade deve passar por uma profunda reavaliação policial. "Em vez de reagir reiteradamente a incidentes, a polícia deve direcionar seus recursos e competência na busca de soluções."
Chamado de "Nova Prevenção", esse conceito de policiamento vem crescendo em países como EUA, Chile, Alemanha e Itália e envolve diversos atores sociais no combate à violência. "Problemas distintos merecem soluções distintas e o sistema penal constitui apenas uma das alternativas possíveis", diz Dias Neto.
Cláudio Beato defende uma reengenharia policial -que, para ser concretizada, demandaria mudanças na legislação. "Não podemos ter o mesmo tipo de polícia no Amazonas e em São Paulo, por exemplo. Esse modelo de polícia no século 19 não condiz com a realidade do século 21."


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