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Brasil se prepara para reforma ortográfica
Novas regras da língua portuguesa devem começar a ser implementadas em 2008; mudanças incluem fim do trema
Ministério da Educação já prepara a próxima licitação dos livros didáticos, que deve ocorrer em dezembro, pedindo a nova ortografia
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O fim do trema está decretado desde dezembro do ano passado. Os dois pontos que ficam
em cima da letra u sobrevivem
no corredor da morte à espera
de seus algozes. Enquanto isso,
continuam fazendo dos desatentos suas vítimas, que se esquecem de colocá-los em palavras como freqüente e lingüiça
e, assim, perdem pontos em
provas e concursos.
O Brasil começa a se preparar
para a mudança ortográfica
que, além do trema, acaba com
os acentos de vôo, lêem, heróico e muitos outros. A nova ortografia também altera as regras
do hífen e incorpora ao alfabeto
as letras k, w e y (veja quadro).
As alterações foram discutidas
entre os oito países que usam a
língua portuguesa -uma população estimada hoje em 230 milhões- e têm como objetivo
aproximar essas culturas.
Não há um dia marcado para
que as mudanças ocorram -especialistas estimam que seja
necessário um período de dois
anos para a sociedade se acostumar. Mas a previsão é que a
modificação comece em 2008.
O Ministério da Educação
prepara a próxima licitação dos
livros didáticos, que deve ocorrer em dezembro, pedindo a
nova ortografia. "Esse edital,
para os livros que serão usados
em 2009, deve ser fechado com
as novas regras", afirma o assessor especial do MEC, Carlos
Alberto Xavier.
É pela sala de aula que a mudança deve mesmo começar,
afirma o embaixador Lauro
Moreira, representante brasileiro na CPLP (Comissão de
Países de Língua Portuguesa).
"Não tenho dúvida de que,
quando a nova ortografia chegar às escolas, toda a sociedade
se adequará. Levará um tempo
para que as pessoas se acostumem com a nova grafia, como
ocorreu com a reforma ortográfica de 1971, mas ela entrará
em vigor aos poucos."
Tecnicamente, diz Moreira, a
nova ortografia já poderia estar
em vigor desde o início do ano.
Isso porque a CPLP definiu
que, quando três países ratificassem o acordo, ele já poderia
ser vigorar. O Brasil ratificou
em 2004. Cabo Verde, em fevereiro de 2006, e São Tomé e
Príncipe, em dezembro.
António Ilharco, assessor da
CPLP, lembra que é preciso um
processo de convergência para
que a grafia atual se unifique
com a nova. "Não se pode esperar resultados imediatos."
A nova ortografia deveria começar, também, nos outros
cinco países que falam português (Portugal, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor
Leste). Mas eles ainda não ratificaram o acordo.
"O problema é Portugal, que
está hesitante. Do jeito que está, o Brasil fica um pouco sozinho nessa história. A ortografia
se torna mais simples, mas não
cumpre o objetivo inicial de padronizar a língua", diz Moreira.
"Hoje, é preciso redigir dois
documentos nas entidades internacionais: com a grafia de
Portugal e do Brasil. Não faz
sentido", afirma o presidente
da Academia Brasileira de Letras, Marcos Vilaça.
Para ele, Portugal não tem
motivos para a resistência. "Fala-se de uma pressão das editoras, que não querem mudar
seus arquivos, e de um conservadorismo lingüístico. Isso não
é desculpa", afirma.
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