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Para escritores, trabalho será do revisor
Autores pretendem deixar para os revisores de seus livros o trabalho de adaptar o texto às novas regras ortográficas
O escritor Ruy Castro diz que já passou "da idade de reaprender a escrever" e que pretende continuar usando as regras antigas
DA REPORTAGEM LOCAL
"O Chico achou ótima a ideia,
porém prefere permanecer
tranquilo nas férias." Foi essa a
resposta bem-humorada do assessor de imprensa de Chico
Buarque, Mário Canivello, ao
pedido de entrevista da Folha
sobre a nova ortografia. Em férias, o cantor e escritor não pode responder o que acha das
mudanças, mas seu assessor já
pratica as novas regras. "Idéia"
sem acento e "tranqüilo" sem
trema serão cada vez mais comuns nos próximos anos.
Quem poderia se beneficiar
com as alterações é o escritor e
colunista da Folha Ruy Castro.
Registrado com um y no nome,
ele conta que passou a vida
sendo vítima dos legalistas, para quem a letra não existia. "Para eles, Ruy deveria ser Rui. Pelo menos nisso, para mim, a nova reforma será ótima. Ela garante o meu direito ao y, e, assim, os antigos legalistas podem ir lamber sabão... e, como
são legalistas, terão de se curvar à nova ortografia."
O escritor diz que sempre se
orgulhou de respeitar as regras
da língua, mas que tudo tem
um limite. "Em criança, fui ensinado a escrever "tôda" porque
havia um pássaro, que nunca vi
mais gordo, chamado "toda".
Depois, aboliram o circunflexo
em "toda" e mandaram o tal
pássaro passear. E assim fizeram com todos os acentos diferenciais", conta. "Adaptei-me
facilmente àquela nova ortografia e até hoje venho utilizando-a com razoável eficiência.
Mas, agora, chega. Já passei da
idade de reaprender a escrever.
Vou seguir usando a ortografia
vigente no dia de hoje e, no futuro, se quiser, o computador
que me corrija."
O computador ou os revisores das editoras. Serão eles que
também farão as correções dos
novos livros de Marçal Aquino
e Luiz Ruffato, por exemplo.
"Fui revisor em jornal e sempre gostei muito da língua. Como todo brasileiro, porém, não
sou grande conhecedor das regras. Me preocupo mais, por
exemplo, em evitar palavras repetidas porque sempre há a figura do revisor", diz Marçal,
autor de "Cabeça a Prêmio".
Ele afirma que acha bem-vindo tudo o que for para simplificar a grafia. Já Ruffato diz
não ser contra nem a favor.
"Tem coisas mais urgentes para serem resolvidas, como uma
melhor relação cultural com os
países lusófonos. Mal conhecemos os países da África que falam português." O escritor de
"Eles Eram Muitos Cavalos"
afirma que vai continuar redigindo seus livros do mesmo jeito. "O trabalho será mesmo dos
revisores."
(DANIELA TÓFOLI)
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