São Paulo, segunda-feira, 20 de agosto de 2007

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A FAVOR

Separados pela mesma língua

MAURO VILLAR
ESPECIAL PARA A FOLHA

VOCÊ SE SENTE confortável por não ter de escrever christallino, phantasma, theísmo? Pois foi uma simplificação da ortografia, na década de 1910, que fez que passássemos a escrever tais palavras como agora o fazemos.
A ortografia é uma convenção, mas somos a única língua no mundo com dois cânones oficiais ortográficos, um europeu e um brasileiro. O árabe é a língua de 250 milhões de pessoas em 21 países do mundo. Claro que elas não se expressam no mesmo árabe. Mas a língua oficial dos meios de comunicação de massa em todo o mundo árabe é escrita do mesmo jeito (o árabe moderno unificado ou comum), compreensível em todos os países islamitas ou onde o árabe seja falado. O espanhol é usado por cerca de 450 milhões de pessoas em 19 países.
Quarta língua mais falada do mundo, são inúmeras as suas variantes, mas aqueles que a utilizam seguem um padrão escrito comum, uniforme: só há uma forma oficial de grafá-la. O francês é língua de 125 milhões de pessoas na Europa, África, América Central e Oceania. É língua de 26 países. Sua ortografia complicada e arcaizante é baseada na grafia legal do francês medieval, codificado no século 17 pela Academia Francesa. É extensa a lista das suas variedades dialetais, mas só há uma forma de escrever o francês padrão em todo o mundo. É o caso também do inglês, primeira língua de 1 bilhão de pessoas: seu padrão ortográfico é basicamente o mesmo para todos, com pequenas divergências. Por que Portugal e Brasil seriam dois países separados pela mesma língua, quando outras línguas do mundo com muito maiores óbices resolveram seu problema ortográfico?


MAURO VILLAR é co-autor do "Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa" e diretor do Instituto Houaiss de Lexicografia.

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