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A FAVOR
Separados pela mesma língua
MAURO VILLAR
ESPECIAL PARA A FOLHA
VOCÊ SE SENTE confortável por não ter de
escrever christallino,
phantasma, theísmo? Pois foi
uma simplificação da ortografia, na década de 1910, que fez
que passássemos a escrever tais
palavras como agora o fazemos.
A ortografia é uma convenção,
mas somos a única língua no
mundo com dois cânones oficiais ortográficos, um europeu
e um brasileiro. O árabe é a língua de 250 milhões de pessoas
em 21 países do mundo. Claro
que elas não se expressam no
mesmo árabe. Mas a língua oficial dos meios de comunicação
de massa em todo o mundo árabe é escrita do mesmo jeito (o
árabe moderno unificado ou
comum), compreensível em todos os países islamitas ou onde
o árabe seja falado. O espanhol
é usado por cerca de 450 milhões de pessoas em 19 países.
Quarta língua mais falada do
mundo, são inúmeras as suas
variantes, mas aqueles que a
utilizam seguem um padrão escrito comum, uniforme: só há
uma forma oficial de grafá-la. O
francês é língua de 125 milhões
de pessoas na Europa, África,
América Central e Oceania. É
língua de 26 países. Sua ortografia complicada e arcaizante
é baseada na grafia legal do
francês medieval, codificado no
século 17 pela Academia Francesa. É extensa a lista das suas
variedades dialetais, mas só há
uma forma de escrever o francês padrão em todo o mundo. É
o caso também do inglês, primeira língua de 1 bilhão de pessoas: seu padrão ortográfico é
basicamente o mesmo para todos, com pequenas divergências. Por que Portugal e Brasil
seriam dois países separados
pela mesma língua, quando outras línguas do mundo com
muito maiores óbices resolveram seu problema ortográfico?
MAURO VILLAR é co-autor do "Dicionário
Houaiss da Língua Portuguesa" e diretor do Instituto Houaiss de Lexicografia.
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