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CASO TIM LOPES
Traficante é o principal acusado de torturar e matar jornalista da TV Globo; operação mobilizou cerca de mil policiais
Elias Maluco é preso após três dias de cerco
TALITA FIGUEIREDO
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Três meses e 17 dias depois do assassinato do jornalista Tim Lopes, da TV Globo, a Polícia Civil prendeu, às 8h45 de ontem, o principal acusado de sua morte: o
traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, 36.
A prisão resultou de uma ocupação iniciada na terça-feira no
complexo do Alemão (zona norte), a área onde Lopes foi morto.
O traficante mais procurado do
Rio foi preso desarmado, numa
casa em um beco de acesso à favela da Grota, que fica no complexo
do Alemão.
Maluco é o principal acusado
pela morte de Lopes, ocorrida na
noite de 2 de junho. Dos nove indiciados no processo, era o último
em liberdade. Seis estão presos,
um morreu em confronto com a
polícia e o último teria se matado.
Em depoimento ontem ao Tribunal de Justiça, ele negou a participação no crime.
Maluco ficará preso no Batalhão
de Choque da Polícia Militar até a
reforma da penitenciária Bangu 1,
parcialmente destruída pela rebelião da semana passada.
O secretário estadual de Segurança Pública, Roberto Aguiar,
disse que Maluco não terá contato
com outros presos no local, como
o traficante Fernandinho Beira-Mar, do CV (Comando Vermelho), líder do motim em Bangu 1.
A operação de cerco a Maluco
mobilizava mil policiais, em regime de revezamento, para manter
sempre 250 homens no complexo. A casa onde o criminoso foi
preso estava a cerca de 500 m da
central montada pela Polícia Civil.
Segundo a Secretaria de Segurança, por volta das 8h30, policiais da Divisão de Capturas tomavam café numa padaria,
aguardando a equipe que os substituiria, quando um morador informou que o traficante estaria
em uma casa do beco.
Cerca de dez policiais cercaram
o local, um sobrado de alvenaria.
A dona da casa, Joacyra de Jesus,
abriu a porta e permitiu a entrada.
No segundo andar, atrás de uma
porta, estava o traficante, segundo
a secretaria.
"Perdi, chefe. Só não "esculacha"
não", teria dito Elias Maluco ao
inspetor que o prendeu, João Carlos Pereira Couto, 45. Não houve
resistência do traficante. A euforia
tomou conta dos policiais, que
desceram o beco gritando: "Prendemos, prendemos".
Os participantes da operação se
juntaram e, em comboio, Maluco
foi levado à chefia de polícia, no
centro. No trajeto, policiais militares, guardas municipais, pedestres e motoristas comemoravam
com buzinas e acenos.
Na tumultuada apresentação do
traficante a jornalistas, Maluco foi
exibido na frente de um cartaz
com a seguinte mensagem: "Aqui
está Elias Maluco. Polícia Civil".
O secretário de Segurança Pública afirmou que não existe poder paralelo no Rio. "Este Estado
tem poder legítimo, democraticamente eleito."
Ao final da apresentação, depois
que as autoridades tinham saído,
jornalistas xingaram Maluco, insistindo que ele levantasse a cabeça. Um policial apertou as nádegas do traficante, que reagiu a
chutes. Ele não conseguiu acertar
o policial.
A prisão de Maluco ocorre num
momento de crise do governo de
Benedita da Silva (PT), por causa
da rebelião na semana passada
em Bangu 1. Com a prisão, o governo espera reverter a imagem
de que não tem força diante da
ação do tráfico.
Monitoramento
Para prender Maluco, a polícia
monitorou o sinal de seu telefone
celular e interceptou suas conversas. Com isso, conseguiu acompanhar a movimentação no complexo. Não conseguiu, porém, interceptar as conversas do traficante
pelo aparelho Nextel, uma espécie
de rádio.
Teixeira disse que, desde a morte de Lopes, o traficante ficou quase todo o tempo, no complexo.
"Pelo que sabemos, esteve no centro e em Vigário Geral. Mas, com
a operação que fizemos, ficou
acuado, indo de uma residência
para outra."
A prisão de dois rapazes anteontem foi fundamental para
que a polícia tivesse certeza de que
Maluco ainda estava na região.
Eles estavam em uma casa que
servia de esconderijo do traficante. Segundo a polícia, eles confirmaram que davam informações e
comida ao traficante.
Com os dois rapazes foram encontradas roupas, um celular, um
aparelho Nextel, um carregador
de Nextel, R$ 990 e documentos
falsos. Também foi detido, e depois liberado, o filho dos donos da
casa em que Maluco foi preso.
O chefe da Polícia Civil dedicou
a prisão do traficante à família de
Tim Lopes, que não quis comentar a ação. "A prisão de Elias Maluco é só o começo", disse o advogado André Martins, concunhado
do jornalista.
A Fenaj (Federação Nacional
dos Jornalistas) e a Comissão Tim
Lopes (criada após a morte do
jornalista, para acompanhar as
investigações) elogiaram a prisão,
mas cobraram ações sociais nos
complexos do Alemão e da Penha, onde o repórter foi capturado e morto.
A governadora Benedita da Silva (PT) anunciou que o local no
alto da favela da Grota onde o corpo do jornalista foi encontrado
será transformado no Parque Tim
Lopes, com lazer e projetos sociais
para a população da região.
"Queremos agora uma invasão
social de toda a região", afirmou o
jornalista Marcelo Auler, da Comissão Tim Lopes. Ele acompanhou a apresentação de Elias Maluco e puxou uma salva de palmas
dos jornalistas para os policiais.
"Mesmo entendendo que a prisão demorou a acontecer, a gene
viu que foi uma ação eficaz e inteligente, embora esse não seja o
usual da polícia", afirmou a presidente da Fenaj, Beth Costa.
Colaborou RAFAEL CARIELLO, da Sucursal do Rio
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