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EDUCAÇÃO
Ao divulgar a criação de 200 mil lugares, prefeitura contabiliza unidades que não foram abertas e omite dados do MEC
Marta infla número de vagas em escolas
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
Em campanha pela reeleição, a
prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), inflou dados de sua administração ao afirmar que criou
200 mil vagas nas escolas municipais. O número consta de artigo
publicado na Folha e é repetido
há meses, em entrevistas, pela
prefeita e seus assessores.
Para chegar a esse número, a administração inclui vagas que, na
prática, não foram criadas e desconsidera dados que repassou ao
MEC (Ministério da Educação)
em 2000 e 2001. Por fim, técnicos
falam de realizações que teriam
sido concluídas nos três primeiros meses de 2001 e que o próprio
ex-secretário petista que comandava a pasta na época contesta.
A prefeitura nega que tenha inflado dados. Diz que faz sua parte
oferecendo vagas à população.
"Se as pessoas não procuram [as
vagas] por "ene" motivos, a responsabilidade não é nossa", diz a
secretária municipal da Educação, Maria Aparecida Perez.
Para conferir as contas, a Folha
usou documentos oficiais da própria SME (Secretaria Municipal
da Educação), do MEC e trechos
do "Diário Oficial". Visitou ainda
creches conveniadas (hoje dentro
dos centros de educação infantil).
1) Só no papel
No primeiro dos três encontros
que a Folha teve na SME, no início de agosto, técnicos da prefeitura apresentaram lista com os
nomes de 60 creches que estariam
oferecendo mais 11.370 vagas.
Por esse documento, foram
abertas recentemente 60 vagas em
três unidades da Caritas Diocesana, em Campo Limpo, na zona
sul. A realidade é outra: "Pedimos
há quatro meses a abertura de novas vagas, mas até agora não recebemos resposta", diz Celeste Aparecida Bueno Cardoso, coordenadora de projetos da entidade.
Jhenifer Ágata Santos, dois anos
e cinco meses, tem a senha 197 da
fila de espera por uma vaga na
creche Walther Sommerlath,
mantida pela Caritas no Capão
Redondo. Na prática, há outras
600 crianças na sua frente. Talvez
ingressasse em 2006, depois de
completar quatro anos, calcula a
diretora Maria José Ramos.
A mãe de Jhenifer, Renata Santos, desempregada, procura na região uma vaga para sua filha. "Estou na fila em cinco creches."
A Searas Lar Meimei, em Santo
Amaro, é outra creche conveniada que está ampliando as contas
da prefeitura. No papel, ganhou
120 vagas. Na prática, reduziu o
número de crianças (de 130 para
90) e continua com fila de espera.
Valmir Aquilino de Freitas, assessor técnico da SME que fez o
levantamento, diz que as 11.370
novas vagas são uma estimativa.
"Foi um chute mesmo."
2) Paternidade das vagas
Outro artifício da prefeitura para engordar o saldo final é ignorar
22.259 alunos do Ceme, programa de alfabetização de adultos
criado na gestão de Celso Pitta
(hoje no PSL) e que continuou no
início da atual administração.
Para o censo do MEC de 2001,
Marta informou que havia 131.221
estudantes de supletivo em São
Paulo, incluindo os alunos do Ceme. Para atingir os 200 mil de suas
contas, no entanto, ela não computou os estudantes do Ceme em
2000, no fim da gestão Pitta. Com
a redução das matrículas em 2000
e 2001, o número de vagas abertas
na atual administração sobe.
A prefeitura alega agora que
desconsiderou o número porque
a maior parte do curso era semi-presencial. "Não tínhamos como
conferir a presença dos alunos",
diz Perez. Hoje, alega a secretária,
há um programa que o substituiu,
o Cieja. Segundo ela, por exigir a
presença física do aluno durante o
curso, as vagas são contabilizadas.
A prefeitura usa ainda dados
que colidem com informações do
ex-secretário Fernando José de
Almeida, titular da pasta da Educação no início da gestão Marta.
A administração municipal diz
que em três meses de governo, entre janeiro e março de 2001, foi
possível oferecer 83.511 vagas a
mais: 24.006 nas "escolas de latinha" deixadas por Pitta, 49.657
por meio da ampliação do terceiro turno e outras 9.848 com o uso
de salas desativadas de creches.
Consultado pela Folha, Almeida disse, em entrevista gravada,
que foram abertas "cerca de 30
mil vagas no início da gestão,
principalmente com a racionalização do uso de salas de aula".
Pelos dados repassados pela secretaria, entre dezembro de 2000
e o mês passado houve acréscimo
de 187.840 matrículas na rede municipal. Já em vagas o aumento teria sido de 201.494 unidades.
Nos documentos da SME há diferença de 73.529 unidades entre
as vagas ofertadas pela administração Marta e as matrículas feitas
até o mês passado. Essa suposta
demanda excedente é fato normal
na rede de ensino, explica Perez,
já que nem todas as classes estão
com lotação completa. A secretaria admite déficit de 17 mil vagas.
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