São Paulo, terça-feira, 20 de setembro de 2005

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A SANGUE FRIO

Parente de decasséguis afirma que, enquanto um dos acusados agredia família, o outro vigiava os demais

Sobrevivente diz que dupla bateu em rodízio

ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL

O sobrevivente da família de decasséguis (descendentes de japoneses que vão trabalhar no Japão) assassinada há nove dias, na Vila Nova Curuçá (zona leste de São Paulo), prestou ontem um novo depoimento à Polícia Civil e desmentiu as afirmações do vigilante Ricardo Francisco dos Santos, preso sob acusação de participação no crime.
Na versão da vítima, Ricardo e Celso Alencar dos Santos (que está foragido) espancaram, torturaram e mataram os seus familiares. Também em relato à polícia, o vigilante afirmou que agiu por ter sido ameaçado por Celso e que apenas presenciou o comparsa assassinar as vítimas.
O crime ocorreu no dia 11. Na ocasião, foram assassinados os pais da vítima, Tadashi e Futaba Yonekura; seus irmãos, Nilton e Fátima; e sua mulher, Érica. O seu filho de 11 meses foi poupado pelos criminosos, que fugiram levando dinheiro que a família havia conseguido trabalhando por seis anos no Japão.
Érica foi assassinada com um tiro na cabeça -o bebê foi encontrado em seu colo. Os demais familiares foram espancados e torturados. Dois deles acabaram incendiados pelos bandidos.
Segundo o delegado Fábio Guedes Rosa, do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) de São Paulo, o sobrevivente deu detalhes de como os criminosos agiram.
"Ele contou que as agressões começaram na manhã do dia 11 [domingo, data do crime]. Primeiramente foi agredido na cabeça por Celso. Depois, quando sua irmã estava sendo espancada na sua frente, tentou interferir. Daí o Ricardo começou a espancá-lo com um pedaço de madeira e quebrou o seu braço", disse o delegado.
A vítima relatou ainda que os bandidos tentaram incendiá-lo, mas não havia combustível suficiente. Disse também que os criminosos faziam "rodízio" para espancá-los. As agressões aconteciam no andar superior da casa. "Enquanto um vigiava as vítimas na sala, o outro subia com uma delas e a espancava com o intuito de saber onde estava o dinheiro. No final, o sobrevivente se fingiu de morto", contou Rosa.

Refúgio no interior
De acordo com a polícia, depois que os criminosos fugiram, a vítima se arrastou até o quintal e viu a mulher morta no carro com o bebê chorando em seu colo. Com muito esforço, conseguiu pedir socorro aos vizinhos.
O sobrevivente ficou internado em um hospital e teve alta ontem. De lá, saiu direto para prestar depoimento à polícia.
Durante a internação, recebeu visitas de familiares, que também levaram o bebê. Policiais ficaram de prontidão na porta de seu quarto e manterão a escolta.
Segundo o irmão de Futaba, o advogado Tsuneto Sassaki, 54, a vítima ficará, finalmente, com o filho na casa de familiares no interior de São Paulo. "Ele [vítima] está muito abalado e chegou a se emocionar durante o depoimento. Mas está reagindo bem, dentro do possível", afirmou.


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