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A SANGUE FRIO
Parente de decasséguis afirma que, enquanto um dos acusados agredia família, o outro vigiava os demais
Sobrevivente diz que dupla bateu em rodízio
ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL
O sobrevivente da família de decasséguis (descendentes de japoneses que vão trabalhar no Japão)
assassinada há nove dias, na Vila
Nova Curuçá (zona leste de São
Paulo), prestou ontem um novo
depoimento à Polícia Civil e desmentiu as afirmações do vigilante
Ricardo Francisco dos Santos,
preso sob acusação de participação no crime.
Na versão da vítima, Ricardo e
Celso Alencar dos Santos (que está foragido) espancaram, torturaram e mataram os seus familiares.
Também em relato à polícia, o vigilante afirmou que agiu por ter
sido ameaçado por Celso e que
apenas presenciou o comparsa
assassinar as vítimas.
O crime ocorreu no dia 11. Na
ocasião, foram assassinados os
pais da vítima, Tadashi e Futaba
Yonekura; seus irmãos, Nilton e
Fátima; e sua mulher, Érica. O seu
filho de 11 meses foi poupado pelos criminosos, que fugiram levando dinheiro que a família havia conseguido trabalhando por
seis anos no Japão.
Érica foi assassinada com um tiro na cabeça -o bebê foi encontrado em seu colo. Os demais familiares foram espancados e torturados. Dois deles acabaram incendiados pelos bandidos.
Segundo o delegado Fábio Guedes Rosa, do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) de São Paulo, o sobrevivente deu detalhes de como
os criminosos agiram.
"Ele contou que as agressões começaram na manhã do dia 11 [domingo, data do crime]. Primeiramente foi agredido na cabeça por
Celso. Depois, quando sua irmã
estava sendo espancada na sua
frente, tentou interferir. Daí o Ricardo começou a espancá-lo com
um pedaço de madeira e quebrou
o seu braço", disse o delegado.
A vítima relatou ainda que os
bandidos tentaram incendiá-lo,
mas não havia combustível suficiente. Disse também que os criminosos faziam "rodízio" para espancá-los. As agressões aconteciam no andar superior da casa.
"Enquanto um vigiava as vítimas
na sala, o outro subia com uma
delas e a espancava com o intuito
de saber onde estava o dinheiro.
No final, o sobrevivente se fingiu
de morto", contou Rosa.
Refúgio no interior
De acordo com a polícia, depois
que os criminosos fugiram, a vítima se arrastou até o quintal e viu a
mulher morta no carro com o bebê chorando em seu colo. Com
muito esforço, conseguiu pedir
socorro aos vizinhos.
O sobrevivente ficou internado
em um hospital e teve alta ontem.
De lá, saiu direto para prestar depoimento à polícia.
Durante a internação, recebeu
visitas de familiares, que também
levaram o bebê. Policiais ficaram
de prontidão na porta de seu
quarto e manterão a escolta.
Segundo o irmão de Futaba, o
advogado Tsuneto Sassaki, 54, a
vítima ficará, finalmente, com o
filho na casa de familiares no interior de São Paulo. "Ele [vítima] está muito abalado e chegou a se
emocionar durante o depoimento. Mas está reagindo bem, dentro
do possível", afirmou.
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