São Paulo, terça-feira, 20 de setembro de 2005

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REFERENDO

Desarmamento gera troca de farpas em debate

DA SUCURSAL DO RIO

Parlamentares favoráveis e contrários à proibição da venda de armas no Brasil trocaram farpas ontem durante um debate sobre o referendo do tema, na Academia de Polícia Civil, no Rio de Janeiro.
Estudioso de armas, o sociólogo Antônio Rangel Bandeira, da ONG Viva Rio, acusou parlamentares contrários à proibição da venda de armas de receber dinheiro de fabricantes.
Contrário ao desarmamento, o deputado federal Alberto Fraga (PFL-DF) rebateu dizendo ser da bancada da "bala", não da "mala", fazendo referência ao suposto mensalão pago a deputados para votar em propostas do governo e disse que o Viva Rio recebe doações de empresas estrangeiras.
O professor da UFF (Universidade Federal Fluminense) Ronaldo Leão afirmou que a aprovação do sim no referendo é "nauseante" para o país e disse que seus defensores querem, na verdade, "enxugar gelo" e "encaixotar fumaça". "A proibição da venda de armas é um factóide e um insulto a inteligência da população. Quem quer tirar o direito do cidadão de se defender não entende bulhufas de segurança pública."
Como reação, o sociólogo Rangel Bandeira acusou os favoráveis ao não no referendo de fazer "achismo retrógrado".
Durante o debate, os contrários ao desarmamento pregaram o direito à legítima defesa da vítima e sustentaram que o referendo só servirá para desarmar os cidadãos de bem e armar os criminosos.
Já os defensores argumentaram que o risco de morte de uma pessoa armada reagir a um assalto é bem maior do que aquela que não faz nada e que a maioria dos crimes é praticada com armas legais.
O deputado estadual Alessandro Molon (PT-RJ) apresentou dados para tentar derrubar o argumento de legítima defesa. Segundo ele, estatísticas mostram que 90% das pessoas que reagem armadas a uma ação criminosa acabam vítimas e que a chance de morte é 180 vezes maior do que quem não esboça uma reação.
Ronaldo Leão afirmou que a campanha de recolhimento de armas que vem sendo feita pelo governo é muito mais inteligente do que proibir a venda. "Se o cidadão não quiser usar arma, que não use, mas sou contrário a proibição de um direito", afirmou.
O deputado Alberto Fraga criticou as recentes estatísticas divulgadas pelo Ministério da Saúde, que apontou para uma redução de cerca de 3.000 homicídios por armas de fogo entre 2003 e 2004 devido a Lei do Desarmamento, de dezembro de 2003. "Para serem confiáveis, os dados tinham que ser fornecidos pelos IMLs."
Disse que o número de mortos por armas de fogo no ano passado (36.365) é igual ao dos que morreram por tuberculose e gripe e que o Ministério da Saúde deveria se preocupar em erradicar doenças.
Rangel Bandeira contestou o argumento de que a arma garantiria a legítima defesa. Segundo ele, na maioria dos casos, de nada adianta ter arma porque o criminoso sempre age como elemento surpresa. "A arma é motivo para agressão, e não defesa. Acreditar em legítima defesa é fantasia."


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