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REFERENDO
Desarmamento gera troca de farpas em debate
DA SUCURSAL DO RIO
Parlamentares favoráveis e contrários à proibição da venda de armas no Brasil trocaram farpas ontem durante um debate sobre o
referendo do tema, na Academia
de Polícia Civil, no Rio de Janeiro.
Estudioso de armas, o sociólogo
Antônio Rangel Bandeira, da
ONG Viva Rio, acusou parlamentares contrários à proibição da
venda de armas de receber dinheiro de fabricantes.
Contrário ao desarmamento, o
deputado federal Alberto Fraga
(PFL-DF) rebateu dizendo ser da
bancada da "bala", não da "mala", fazendo referência ao suposto
mensalão pago a deputados para
votar em propostas do governo e
disse que o Viva Rio recebe doações de empresas estrangeiras.
O professor da UFF (Universidade Federal Fluminense) Ronaldo Leão afirmou que a aprovação
do sim no referendo é "nauseante" para o país e disse que seus defensores querem, na verdade,
"enxugar gelo" e "encaixotar fumaça". "A proibição da venda de
armas é um factóide e um insulto
a inteligência da população.
Quem quer tirar o direito do cidadão de se defender não entende
bulhufas de segurança pública."
Como reação, o sociólogo Rangel Bandeira acusou os favoráveis
ao não no referendo de fazer
"achismo retrógrado".
Durante o debate, os contrários
ao desarmamento pregaram o direito à legítima defesa da vítima e
sustentaram que o referendo só
servirá para desarmar os cidadãos
de bem e armar os criminosos.
Já os defensores argumentaram
que o risco de morte de uma pessoa armada reagir a um assalto é
bem maior do que aquela que não
faz nada e que a maioria dos crimes é praticada com armas legais.
O deputado estadual Alessandro Molon (PT-RJ) apresentou
dados para tentar derrubar o argumento de legítima defesa. Segundo ele, estatísticas mostram
que 90% das pessoas que reagem
armadas a uma ação criminosa
acabam vítimas e que a chance de
morte é 180 vezes maior do que
quem não esboça uma reação.
Ronaldo Leão afirmou que a
campanha de recolhimento de armas que vem sendo feita pelo governo é muito mais inteligente do
que proibir a venda. "Se o cidadão
não quiser usar arma, que não
use, mas sou contrário a proibição de um direito", afirmou.
O deputado Alberto Fraga criticou as recentes estatísticas divulgadas pelo Ministério da Saúde,
que apontou para uma redução
de cerca de 3.000 homicídios por
armas de fogo entre 2003 e 2004
devido a Lei do Desarmamento,
de dezembro de 2003. "Para serem confiáveis, os dados tinham
que ser fornecidos pelos IMLs."
Disse que o número de mortos
por armas de fogo no ano passado
(36.365) é igual ao dos que morreram por tuberculose e gripe e que
o Ministério da Saúde deveria se
preocupar em erradicar doenças.
Rangel Bandeira contestou o argumento de que a arma garantiria
a legítima defesa. Segundo ele, na
maioria dos casos, de nada adianta ter arma porque o criminoso
sempre age como elemento surpresa. "A arma é motivo para
agressão, e não defesa. Acreditar
em legítima defesa é fantasia."
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