São Paulo, sábado, 20 de setembro de 2008

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Governo endurece, mas policiais não recuam

Gestão de José Serra (PSDB) afirmou que descontará os dias parados e que promotores assumirão as investigações

Não há sinais de recuo por parte de policiais e delegados em greve, que ontem fizeram atos no Grande ABC e no interior

LUIS KAWAGUTI
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

No quarto dia de paralisação na Polícia Civil, o governo José Serra (PSDB) subiu ainda mais o tom contra os grevistas, anunciou que descontará os dias parados e que promotores assumirão investigações.
"Não será tentando prejudicar a segurança da população que os sindicalistas da Polícia Civil conseguirão benefícios para suas categorias, mas sim com o respeito à lei, às decisões judiciais e, principalmente, à população", afirmou ontem o secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão.
Apesar disso, não há sinais de recuo por parte de policiais e delegados em greve, que ontem fizeram manifestações em São Bernardo do Campo (Grande ABC) e em Assis, no interior.
Segundo o governo, que ontem pela primeira vez divulgou um balanço do movimento, menos de 30% das unidades da Polícia Civil na capital e cerca de 40% do interior se mantêm em "estado de greve".
Para o comando de greve, a adesão é de 90% na cidade de São Paulo e de 100% no interior. Desde o início da greve, a Folha visitou 75 dos 93 distritos policiais da capital e constatou que em 49 o atendimento à população foi prejudicado.
Além de anunciar o desconto dos dias parados, o secretário Marzagão se reuniu com o procurador-geral de Justiça, Fernando Grella Vieira, e acertou que investigações passarão a ser conduzidas por promotores. "Se a polícia se nega a fazer o que é o seu dever, evidentemente alguém terá de fazer."
De manhã, o secretário já havia determinado ao comandante-geral da PM, coronel Roberto Diniz, que orientasse os policiais a elaborar boletins de ocorrência da PM e a encaminhar o documento ao Ministério Público, caso não fossem atendidos nas delegacias.
Na noite de ontem, o governo afirmou que 139 ocorrências registradas pela PM nas regiões de Campinas, Ribeirão Preto, Sorocaba, Marília e Osasco foram levadas à Promotoria.
O objetivo de Marzagão com a medida, além de evitar que a população deixe de ser atendida, é buscar reunir provas de que os grevistas estão prevaricando, já que uma cartilha do comando de greve orienta a categoria a atender apenas casos graves ("prisões em flagrante, homicídios" etc).
Com isso, o governo pode provar que os grevistas estão descumprindo liminar da Justiça que obriga a manutenção dos serviços, sob pena de multa de R$ 200 mil por dia aos sindicatos da categoria.
Além disso, os documentos poderiam ser usados em sindicâncias contra os policiais.
Em nota, a secretaria acusou os sindicatos de "divulgar números falsos", "esconder de suas bases" as propostas salariais do governo e ainda de distribuir uma cartilha de orientação aos grevistas com medidas ilegais, como escolher que tipo de ocorrência deve ser atendida. "Optaram pela intransigência e pelo risco", diz a nota.
O presidente do Sindpesp (sindicato dos delegados), José Martins Leal, disse que "isso tudo é uma forma de fazer pressão". "Não temos medo. A greve vai continuar do jeito que está."
A greve tem o apoio da CUT (Central Única dos Trabalhadores), que cedeu carros e equipamentos de som, segundo a Associação dos Delegados de Polícia. A assessoria da CUT diz que a central "dá apoio moral ao movimento". Na avaliação do governo, eles estão aproveitando o momento eleitoral.


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