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VIOLÊNCIA
Fernando Ribeiro do Val, ministro interino do governo Costa e Silva, e a mulher dele foram mortos a tiros em um sítio
Adolescente é acusado de matar casal em SP
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
CLAYTON FREITAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO
Fernando Ribeiro do Val, 74, e a
mulher dele, Terezinha de Jesus
Leitão Ribeiro do Val, 73, foram
assassinados a tiros na noite de
anteontem, na fazenda Ipê, em
São Simão (285 km de São Paulo),
de propriedade do casal. Ribeiro
do Val foi ministro interino da Fazenda do governo Costa e Silva
(1967-1969).
O acusado pelo crime é o adolescente R.F.F., 16, filho do caseiro
da propriedade onde moravam,
sozinhos, Ribeiro do Val e a mulher. Em depoimento, o menor,
que se entregou à polícia horas
após o crime, afirmou que cometeu o crime porque Ribeiro do Val
não quis emprestar o carro.
Segundo a polícia, R.F.F. disse a
Ribeiro do Val que "queria passear". O dono da casa não quis
emprestar o veículo, alegando
que ele era menor de idade. O menino não teria gostado da resposta. Ele teria discutido e o matado
com um tiro no rosto.
Ao ver o marido caído no chão,
já morto, ainda segundo a polícia,
Terezinha começou a gritar. Irritado, R.F.F. deu outro tiro, acertando o rosto da mulher, que acabou morrendo no local. Os corpos só foram encontrados ontem
de manhã.
Após matar o casal, o adolescente tentou fugir com o Honda
Civic do ex-ministro. Segundo a
Polícia Civil, R.F.F. não conseguiu
ligar o carro por causa da trava de
segurança. Pegou então o Versailles, também da vítima, e o dirigiu
até a casa de um colega, N.C.M.,
17. "Ele [R.F.F." chegou cantando
pneu. Parou na porta de casa e
chamou meu filho [N.C.M."",
afirmou a dona-de-casa Maria
Efigênia da Mata, 49.
Besteira
Os dois adolescentes seguiram
em direção a Cajuru, mas o combustível do veículo acabou a 25
quilômetros da cidade. "Eles chegaram às 8h15 de ontem ao posto
policial, caminhando. R.F.F. disse: "Fiz uma besteira". Ele estava
tão calmo que achei que fosse
uma brincadeira", afirmou o soldado da PM Luiz Carlos Elias.
Segundo o pai de R.F.F., a arma
usada no crime -uma espingarda calibre 22- era do genro de
Ribeiro do Val. "Era para atirar
nos cachorros que comiam as galinhas da fazenda. Não para matar
gente." Seu filho foi encaminhado
ontem para a Febem de Ribeirão.
Amigos da família afirmaram
que os filhos do casal iriam decidir onde os corpos seriam enterrados. Provavelmente, ainda segundo eles, seria em São Paulo,
onde moraram durante anos.
Aposentado da vida pública, Ribeiro do Val era diretor do Sindicato Rural de São Simão. Ocupou
também vários cargos nos governos de Carvalho Pinto (1959-1963) e Laudo Natel (1966-1967 e
1971-1975), além de ter sido secretário das Finanças do prefeito
Paulo Maluf (1969-1971).
Segundo o presidente do sindicato, Marcelo do Amaral Ferreira,
ele criava 300 cabeças de gado e
nunca tinha tido problema com
funcionários. "É um absurdo."
Crime
O duplo assassinato de anteontem foi o primeiro crime cometido por um adolescente em São Simão nos últimos oito anos.
Segundo a Polícia Civil, o último
homicídio envolvendo adolescentes ocorreu em 1993, quando um
garoto de 12 anos matou outro
menino da mesma idade.
Segundo o promotor da Infância e da Juventude de São Simão,
Luciano Gomes de Queiroz Coutinho, 27, o crime ocorrido anteontem é "bastante raro". "Pelos
autos dos anos anteriores, não me
lembro de outro caso."
Para ele, o menor afirmou que
cometeu o crime porque queria o
carro emprestado. "Essas são as
informações preliminares. Iremos apurar melhor durante o inquérito", disse.
O crime ocorrido em São Simão
era o principal assunto nos grupos de moradores da cidade, que
possui 13.679 habitantes.
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