São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

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Grupos alternam sequestro e tráfico

DA REPORTAGEM LOCAL

Dinheiro do tráfico de drogas que financia sequestro, que é reinvestido em compra ilegal de armas e que depois retorna para o tráfico, e assim sucessivamente. Uma quadrilha investigada pela DAS (Divisão Anti-Sequestro) de São Paulo é um exemplo da multiplicidade das ações de um grupo criminoso e da relação entre tráfico e sequestro.
Alexandre Maciel da Silva, o Cadela, 25, preso em setembro pela DAS, comandava as ações da quadrilha. Odair Francisco de Morais, 28, o Gardenal, foragido, realizava os contatos com outros criminosos que participam das ações e César Gomes, o Ceará, também foragido, era o idealizador das operações.
A quadrilha começou a atuar no tráfico nas regiões do Sacomã e Jardim Bristol, na região sul de São Paulo.

Diversificação
Há pelo menos um ano, o grupo resolveu diversificar as ações e apostou no sequestro.
"Eles comentaram que o sequestro estava dando mais dinheiro do que o próprio tráfico", disse um dos homens sequestrados pela quadrilha.
Segundo o delegado José Eduardo Zappi, da DAS, a quadrilha usou a infra-estrutura e a rede de contatos do tráfico para realizar os sequestros.
"Eles usam seus soldados do tráfico como carcereiros e as biqueiras [pontos-de-venda da droga" como cativeiro", afirmou Zappi, responsável pela prisão de Alexandre da Silva.
A infra-estrutura e o know-how do grupo de traficantes na área de sequestros atraiu a atenção de criminosos de outras áreas da cidade de São Paulo.
A polícia descobriu, por exemplo, convites de outras quadrilhas para o grupo de Silva realizar sequestros.
O trato era 50% do lucro para cada parte. A DAS deve indiciar o grupo de Silva por pelo menos três sequestros na Grande SP e por formação de quadrilha.
Nesses três casos, as vítimas ficaram em pontos-de-venda da droga e foram vigiadas por traficantes locais. A venda era proibida enquanto os sequestrados estavam no local.

Capitalização
"Não existe mais o criminoso especialista puro. Fazem de tudo, dependendo da época e da oportunidade", afirmou Guaracy Mingardi, pesquisador da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre tráfico de drogas e secretário de Assuntos de Segurança de Guarulhos (Grande SP).
Segundo Mingardi, pequenos traficantes investem seu dinheiro em sequestros para se capitalizarem rapidamente.
"O sequestro exige gente, controle sobre uma área e um capital operacional, e isso o traficante tem", disse o pesquisador.
Mas essa diversificação, segundo Mingardi, não é lucrativa para médios e grandes traficantes.
"Ocorrem casos, sim, mas não é uma tendência como ocorreu com os traficantes do Rio na década de 90, que usaram o sequestro para se capitalizarem depois do Plano Collor", lembrou.
Segundo o diretor do Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos), Ivaney Cayres de Souza, os traficantes, na maioria dos casos, não gostam de se envolver em outros crimes para não prejudicar o comércio da droga.
"Os casos [de ligação entre tráfico e sequestro" são raros. Mas bandido é bandido. Vai usar o recurso que tem. E ele não é sequestrador porque gosta, mas porque dá dinheiro. Crime organizado é isso", afirmou Souza. (GP)


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