São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2004

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TUMULTO NO CENTRO

Secretaria pune 40 e reconhece que houve abusos durante operação de fiscalização de comércio ilegal

SP afasta guardas após conflito com camelôs

DA REPORTAGEM LOCAL

A Secretaria Municipal de Segurança Urbana de São Paulo reconheceu que houve abusos na ação de fiscalização de ambulantes no centro da capital e afastou 40 guardas civis metropolitanos que participaram da ação, ocorrida anteontem.
Cerca de 300 camelôs e 300 guardas enfrentaram-se por mais de três horas na região do Vale do Anhangabaú na segunda-feira à tarde, segundo estimativa do secretário de Segurança do município, Benedito Mariano.
Os guardas começaram a operação pela ladeira da Memória, onde todos os camelôs são irregulares, apreendendo mercadorias ilegais, como CDs piratas.
Seis guardas ficaram feridos -todos já deixaram os hospitais -e cinco ambulantes foram detidos pela Polícia Militar.
A Secretaria da Segurança do Estado informou que os cinco foram autuados por lesão corporal, dano ao patrimônio, formação de quadrilha, roubo, resistência a ordem de prisão e corrupção de menores -eles teriam participado de agressões aos guardas.
"O que motivou [os afastamentos] foi a avaliação de que houve falhas, atos excessivos e abusivos", disse Mariano. "Por exemplo, guardas com arma em punho. Em hipótese alguma o guarda pode tirar a arma do coldre em fiscalização de ambulantes. É uma orientação da secretaria."
Mariano afirmou ter visto as imagens pela televisão ontem. "Em uma [imagem] a pessoa, já algemada, foi agredida. Toda operação que termina em confronto não é boa. Eles [os guardas] são treinados para não apanhar e não bater."
A reportagem não conseguiu ouvir ontem o sindicato dos guardas civis. O secretário não quis dar detalhes sobre os critérios de escolha dos quarenta guardas afastados. Eles deixarão de participar das fiscalizações de ambulantes e passarão por uma averiguação preliminar. Em última instância, se comprovadas irregularidades, poderão ser demitidos. "Foram seguidos os critérios de avaliação da guarda e da secretaria", disse Mariano.
Na noite de segunda-feira, por causa da confusão, uma das entidades que reúnem camelôs da cidade, o Sindicato dos Camelôs Independentes de São Paulo, ameaçou retirar o apoio à reeleição da prefeita Marta Suplicy (PT). Ontem, a entidade mudou de idéia após uma assembléia que aconteceu pela manhã.
O comando da campanha de Marta prometeu ontem que, se a prefeita for reeleita, a questão do comércio informal será tratada pela secretaria do Trabalho, e não mais pela de Subprefeituras, reivindicação dos ambulantes.
"Foi um tumulto imprevisto, não uma ação de governo, mas da guarda", afirmou o presidente do sindicato de ambulantes, Afonso José da Silva, que foi candidato a vereador pelo PC do B, partido da coligação que busca a reeleição de Marta Suplicy. A cidade tem hoje 6.945 camelôs regularizados, 1.244 deles no centro.
"Em nenhum momento a guarda vai afastar em razão de questão eleitoral e político-partidária", afirmou Mariano ao ser questionado sobre uma eventual motivação política dos afastamentos. Ele disse que já houve outros afastamentos em razão de agressões a camelôs, mas não precisou quantos. (FABIANE LEITE)


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