São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 2006

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BARBARA GANCIA

Só leva desaforo para casa quem quer


Em vez de reagir à velhacaria contida na propaganda do PT, o candidato da oposição cai na armadilha feito pato


NO PREFÁCIO da edição brasileira do meu livro de cabeceira, o "Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano", uma das mais brilhantes mentes tapuias, o economista, diplomata, senador e ministro Roberto Campos (1917-2001), diz que "a errônea identificação de inimigos consiste em atribuir-se a pobreza endêmica e os absurdos desníveis de renda na América Latina ao capitalismo e ao liberalismo, animais quase inexistentes em nossa paisagem e que apenas agora ensaiam uma tímida presença. Os reais inimigos são outros: o mercantilismo patrimonialista, o estatismo e o nacionalismo. Eles é que explicam os monopólios estatais dispendiosos e ineficientes; a inflação crônica, o empobrecimento e a extorsão imposta a poupadores e a usuários, vítimas de altas tarifas, impostos complexos e confiscos periódicos".
O livro, escrito pelo filho de Mario Vargas Llosa, Alvaro, em parceria com o colombiano Plinio Apuleyo Mendoza e o cubano Carlos Alberto Montaner, foi publicado em 1996.
Mas, cá estamos nós, em pleno ano domini de 2006, vendo os dois candidatos à Presidência voltar a discutir privatizações, processo que se mostrou bem-sucedido em todos os países em que foi aplicado, inclusive no Brasil. E o pior é que quem está levando vantagem no bate-boca é o candidato que as condena.
Alô, presidente Lula! Se as privatizações do governo Fernando Henrique foram assim tão maléficas, porque o senhor não reestatizou tudo ou, ao menos, colocou o mérito da questão em pauta antes da campanha eleitoral? Falou mais alto o apoio dos banqueiros do que a cartilha do Foro de São Paulo, organização que o senhor ajudou a fundar com Fidel Castro, em 1990, e que tem como objetivo fortalecer e exportar a Revolução Cubana ao resto do continente?
Discutir as privatizações de FHC a essa altura não passa de canalhice eleitoral. Mas, em vez de reagir à velhacaria contida na propaganda eleitoral de Lula, o candidato da oposição cai na armadilha feito pato. Não só se furta de defender o que é amplamente defensável como ainda dá uma de madalena arrependida, indo a público declarar que não irá privatizar mais nada caso seja eleito. Com essa atitude, o pesedebista repete a debilidade demonstrada no episódio do seqüestro da filha de Silvio Santos, em que atendeu prontamente à exigência do seqüestrador, indo ter com o bandido.
Como se isso não bastasse, Alckmin ainda abaixa a cabeça ante as acusações injuriosas do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, que afirmou nesta semana que o candidato do PSDB está mais para Opus Dei do que para republicano e que tem "um lado" Pinochet.
Alô, Geraldo Alckmin! Até eu, que sou mais bobinha do que a média, soube reagir à altura ao ser acusada pela administração Marta Suplicy, no Painel do Leitor da Folha, de usar "o estilo e a linha política de Jean-Marie Le Pen". Expus os objetivos daqueles que me acusavam pelo que eram, sem deixar pedra sobre pedra.
No ataque, o PT é capaz de qualquer golpe baixo. Até de sugerir que um dossiê fajuto impregnado de digitais de dedos petistas foi um plano urdido pela oposição. Mas só leva desaforo para casa quem quer. Ou quem não está à altura do revide.

barbara@uol.com.br


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