São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 2006

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"É direito do consumidor ter informação"

Para diretor de organização internacional, Richard Lloyd, Justiça brasileira não deve barrar direitos já conquistados

Segundo ele, consumidores têm buscado mais informações de órgãos independentes, e "consumo ético" tem ganhado força

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAl

Os consumidores têm o direito de comparar por meio de testes produtos e serviços oferecidos no mercado, precisam se organizar para limitar propagandas consideradas prejudiciais às crianças, devem saber qual a relação de seus médicos com a indústria farmacêutica e podem até pressionar empresas para que assumam sua responsabilidade social. Para o diretor-geral da Consumers International (organização que reúne 230 entidades de defesa do consumidor em 115 países), Richard Lloyd, a Justiça não deve barrar direitos conquistados por consumidores.

 

FOLHA - A Justiça tem proibido a divulgação de testes por parte de entidades de defesa do consumidor. Não é um retrocesso?
RICHARD LLOYD
- Companhias em muitos países têm tentado resistir aos testes feitos por organizações de consumidores, mas elas estão míopes. Os testes com produtos são acompanhados de perto pelas empresas, mas muitas se negam a melhorar seus produtos e serviços. Há outras, porém, que reconhecem a seriedade dos testes e pedem para que seus produtos sejam incluídos, porque uma recomendação positiva ajuda nas vendas. A Justiça brasileira não deve impedir a publicação dos testes, porque é um direito do consumidor ter acesso à informação. As ações das empresas são um ataque ao trabalho independente das entidades.

FOLHA - Novas normas limitam propagandas dirigidas às crianças na televisão. É direito do consumidor não ser obrigado a aceitar qualquer tipo de publicidade?
LLOYD
- O consumidor tem esse direito. Em alguns lugares, consumidores têm se mobilizado para a retirada de propagandas consideradas prejudiciais, como anúncios de "junk food" para crianças, e tem dado certo.

FOLHA - Sua entidade tem feito uma campanha pela transparência das ações de marketing das indústrias farmacêuticas. A relação médico-empresa é muito próxima?
LLOYD
- A transparência das práticas de marketing é fundamental nesse setor. Indústrias farmacêuticas investem bilhões de dólares para convencer médicos, farmacêuticos e consumidores a comprar seus produtos. Patrocinando pacientes, financiando campanhas e oferecendo facilidades a médicos, empresas têm encontrado caminhos para influenciar a opinião do consumidor. Consumidores têm o direito de saber como médicos prescrevem remédios e de que forma são influenciados pelo relacionamento com companhias.

FOLHA - O consumidor está mais atuante nos últimos anos?
LLOYD
- O chamado "consumo ético" tem ganhado força. Os consumidores querem mais informações de órgãos independentes, feitas com qualidade. A novidade é que cada vez mais estão pressionando para saber sobre o impacto social dos produtos. Empresas estão começando a construir reputações com ações sociais e a se preocupar com o ambiente, porque é uma exigência dos consumidores. Essas serão as companhias de sucesso neste século.


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