São Paulo, sábado, 20 de outubro de 2007

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Casais estéreis "criam" seus filhos no mundo virtual do Second Life

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Petit, de 6 anos, e Nenem, de 4, acompanham a mãe Alexya ao trabalho diariamente. Lá, eles aguardam até que ela acabe seus afazeres de administradora para depois poderem passear no parque. De vez em quando, todos saem juntos de bicicleta e fazem um pic nic.
A rotina seria algo normal para qualquer família real, mas acontece no Second Life, jogo on-line onde os participantes criam personagens. Nele, assim como no jogo de computador "The Sims", casais estéreis encontram uma chance de ter os filhos que não podem gerar.
Alexya é na verdade Alessandra, 33, e mora em Campinas (a 95 km de São Paulo). Ela afirma que tem cisto no ovário e que seu marido tem excesso de ferro no sangue, o que os impossibilitaram de ter filhos até hoje. "Sou um mulher com 33 anos de idade e louca pra ser mãe."
Como Alexya, ela encontra conforto com os filhos Petit e Nenem. "Mimamos os filhos, damos carinho, protegemos, educamos", diz.
Segundo a especialista em reeducação emocional e diretora terapêutica do Centro Hoffman, Heloisa Capelas, como a prática é recente, ainda não é possível precisar se é saudável.
Ela afirma que pode ser um meio de aliviar a espera, mas também uma forma de compensar a frustração e a baixa auto-estima. "A pessoa precisa saber separar, saber que é virtual, um meio onde irá se distrair, mas não se satisfazer. É uma satisfação momentânea."
Capelas diz que, conversando com pessoas que costumam usar o Second Life, vê que algumas têm um brilho no olhar ao falar da vida virtual, o que não ocorre quando falam da real.
Para evitar isso e "não se acomodar" com o virtual, Alessandra diz que procura "separar as coisas" e não pensar nos filhos o dia todo.

Adoção
Para o professor associado do Instituto de Psicologia da USP Francisco Assumpção, ter filhos virtuais "significa, "a priori", incapacidade em viver uma vida real". Ele diz que a família virtual traz demandas virtuais que podem ser "desligadas a qualquer momento", mas que essa fuga traz à tona a solidão.
"Isso independe da questão da esterilidade uma vez que é possível adotarmos filhos ou mesmo fazermos inseminação artificial. Assim, passa a ser uma opção querer ter essa vida só no território da fantasia."


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