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Casais estéreis "criam" seus filhos no mundo virtual do Second Life
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Petit, de 6 anos, e Nenem,
de 4, acompanham a mãe
Alexya ao trabalho diariamente. Lá, eles aguardam até
que ela acabe seus afazeres
de administradora para depois poderem passear no
parque. De vez em quando,
todos saem juntos de bicicleta e fazem um pic nic.
A rotina seria algo normal
para qualquer família real,
mas acontece no Second Life, jogo on-line onde os participantes criam personagens. Nele, assim como no
jogo de computador "The
Sims", casais estéreis encontram uma chance de ter os filhos que não podem gerar.
Alexya é na verdade Alessandra, 33, e mora em Campinas (a 95 km de São Paulo).
Ela afirma que tem cisto no
ovário e que seu marido tem
excesso de ferro no sangue, o
que os impossibilitaram de
ter filhos até hoje. "Sou um
mulher com 33 anos de idade
e louca pra ser mãe."
Como Alexya, ela encontra
conforto com os filhos Petit
e Nenem. "Mimamos os filhos, damos carinho, protegemos, educamos", diz.
Segundo a especialista em
reeducação emocional e diretora terapêutica do Centro
Hoffman, Heloisa Capelas,
como a prática é recente,
ainda não é possível precisar
se é saudável.
Ela afirma que pode ser
um meio de aliviar a espera,
mas também uma forma de
compensar a frustração e a
baixa auto-estima. "A pessoa
precisa saber separar, saber
que é virtual, um meio onde
irá se distrair, mas não se satisfazer. É uma satisfação
momentânea."
Capelas diz que, conversando com pessoas que costumam usar o Second Life,
vê que algumas têm um brilho no olhar ao falar da vida
virtual, o que não ocorre
quando falam da real.
Para evitar isso e "não se
acomodar" com o virtual,
Alessandra diz que procura
"separar as coisas" e não
pensar nos filhos o dia todo.
Adoção
Para o professor associado
do Instituto de Psicologia da
USP Francisco Assumpção,
ter filhos virtuais "significa,
"a priori", incapacidade em
viver uma vida real". Ele diz
que a família virtual traz demandas virtuais que podem
ser "desligadas a qualquer
momento", mas que essa fuga traz à tona a solidão.
"Isso independe da questão da esterilidade uma vez
que é possível adotarmos filhos ou mesmo fazermos inseminação artificial. Assim,
passa a ser uma opção querer
ter essa vida só no território
da fantasia."
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