São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2008

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Família autoriza doação de órgãos de Eloá

Equipe médica do Instituto Dante Pazzanese considerou que órgãos da adolescente estão em condição para transplante

"Para a mãe, foi muito difícil entender que o coração está batendo, mas que [o corpo da filha] não tem mais vida", afirmou a médica

Eder Medeiros/Folha Imagem
No hospital de Santo André, amigos de Eloá se emocionam após anúncio de morte encefálica da garota, no fim da noite de anteontem

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"


A família da estudante Eloá Cristina Pimentel, 15, baleada na cabeça após passar cem horas refém do ex-namorado em Santo André (Grande São Paulo), aceitou doar os órgãos da adolescente à fila pública de transplantes.
Eloá foi baleada na sexta-feira. No mesmo dia, ela passou por uma delicada cirurgia no Centro Hospitalar do Município de Santo André. Desde então, manteve-se em coma.
No final da noite de anteontem, os médicos constataram a morte encefálica -o coração bate, mas o cérebro parou de funcionar irreversivelmente.
A notícia foi imediatamente dada à família. Conforme os protocolos médicos, foi apresentada aos parentes da adolescente a possibilidade de os órgãos serem doados para transplantes. A família hesitou.
"Para a mãe, foi muito difícil entender que o coração está batendo, mas que [o corpo da filha] não tem mais vida. Isso foi difícil", disse Rosa Maria Pinto Aguiar, diretora do hospital.
A resposta da família -positiva- veio quase doze horas depois, às 10h de ontem. "Ela [a mãe] acabou elaborando bem essa questão. No sofrimento todo, [a família] vai dar alegria a muitas pessoas", afirmou Rosa.

Prima
Segundo uma prima de Eloá, a operadora de máquinas Aparecida da Silva Pimentel, 25, familiares tiveram de convencer a mãe da adolescente a aceitar a doação, em razão da revolta por ter perdido a filha de forma tão trágica. O pai não se mostrou contrário à doação dos órgãos.
De acordo com Aparecida, "a ficha" da mãe "só caiu" quando os médicos deram a informação oficial. "Até então, ela estava nervosa, mas sempre esperançosa", disse.
Ainda segundo a prima, os pais de Eloá acompanharam os diagnósticos da filha da casa de um amigo. "Meu tio passou mal o tempo todo", afirmou.
Para Aparecida, embora nunca tenha havido uma discussão séria na família sobre doação de órgãos, a decisão tomada com certeza agradaria a Eloá. "Pelo carinho que ela tinha pelas pessoas, pelo amor, acredito que é o que ela queria", disse.

Transplante
Uma equipe médica do Instituto Dante Pazzanese, de São Paulo, foi enviada ao hospital de Santo André e constatou, após a realização de exames, que os órgãos de Eloá poderiam ser doados. A retirada deveria ser feita durante a madrugada. Somente no procedimento, os médicos determinariam com maior precisão quais órgãos -como coração, pulmão, rins, córneas, fígado etc.- poderiam ser doados.
Os órgãos deveriam ser levados por uma equipe responsável para os hospitais onde estão internados os pacientes receptores, pois precisam ser transplantados em poucas horas.
A lista de transplantes é estadual -ou seja, os receptores seriam da capital ou do interior do Estado.
Após a retirada dos órgãos, o corpo de Eloá seria levado para o IML (Instituto Médico Legal) de Santo André. Ainda não se sabia se haveria velório.
Mesmo que todos os órgãos de Eloá venham a ser retirados, a família -se assim quiser- poderá fazer um velório com o corpo de Eloá à vista, pois o procedimento não provoca alterações visíveis no corpo.

Amiga
Nayara Rodrigues da Silva, 15, amiga de Eloá que foi baleada no rosto, permanecia ontem na unidade de terapia semi-intensiva do centro hospitalar de Santo André. Ela se recupera bem e, segundo os médicos, não deverá ter seqüelas.
A equipe do hospital decidiu que ela ficará na unidade de terapia semi-intensiva até receber alta -ela não deve ir para um quarto comum do hospital.
"Ela continua na semi-intensiva, não por risco, mas por privacidade. Não queremos que ela seja abordada por familiares [de outros pacientes]", explicou a diretora do hospital.
A médica informou que o hospital não comunicou a Nayara sobre a morte da amiga. Luciano Vieira, pai de Nayara, diz que os médicos vão decidir quando isso deve ocorrer. "Com certeza, ela não vai participar do enterro."

Colaborou BRUNA SANIELE



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