São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Delegado diz que tiro foi dado por rapaz

Polícia Civil diz que não restam dúvidas de que tiros que mataram Eloá e feriram Nayara partiram de arma de Lindemberg

Corregedoria da Polícia Militar ainda vai apurar se condução da operação pelo Gate teve falha que possa ter colocado vidas em risco

KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Civil isentou o Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) da PM na morte de Eloá e concluiu que quem atirou nela e em Nayara, ambas com 15 anos, foi mesmo Lindemberg.
"Todos os disparos [com arma letal] ocorridos no apartamento foram feitos por Lindemberg. Apenas um disparo de calibre 12 de borracha foi feito pela PM", disse o delegado-seccional de Santo André, Luiz Carlos dos Santos
Segundo ele, todos projéteis encontrados pela Polícia Técnico-Científica são compatíveis com o calibre 32, a arma usada por Lindemberg.
A Polícia Civil, no entanto, ainda não sabe dizer se o tiro que matou Eloá foi dado antes ou depois de a Polícia Militar invadir o apartamento.
A PM diz que explodiu a porta do imóvel quando escutou o tiro. A perícia e a própria Nayara poderão esclarecer o fato. A menina só poderá prestar depoimento quando receber alta.
Jornalistas que estavam no local o momento da invasão-e alguns moradores que conversaram com a reportagem - dizem que só ouviram disparos após a derrubada da porta.
"Nada indica que a tática usada pela PM tenha levado a menina à morte. São duas coisas distintas, o crime e a tática", afirmou ontem o delegado- seccional de Santo André.
Ainda segundo o delegado, após a invasão, os policiais militares do Gate só fizeram um disparo com bala de borracha em direção à Lindemberg e erraram. A bala se dividiu em três e atingiu também a parede.
Eloá levou dois tiros, na cabeça e na virilha, e Nayara, um, na boca. Foram retirados projéteis do abdômen de Eloá e do maxilar de Nayara.
Por conta da dúvida sobre quando a ordem dos fatos -disparo e entrada da polícia no apartamento-, a Polícia Civil apura, paralelamente, a ação da PM, apesar desse não ser o foco da sua investigação.
Oficialmente, a Corregedoria da PM irá apurar se a negociação e a invasão foram corretas. Os policiais civis aguardam a autorização do hospital onde ela está internada para ouvi-la. Também será feita uma reconstituição do crime.
"O que estamos apurando no inquérito são os crimes cometidos principalmente pelo jovem", disse Santos. "Falha técnica, de ordem administrativa, é outra história. Mas o inquérito vai trazer para o seu cerne tudo o que aconteceu. Nele será descrito todo o formato da operação. Daí se tirariam as conclusões, se houve alguma falha, se não houve. Mas do evento morte da menina há um grande culpado: Lindemberg".
Lindemberg será indiciado por homicídio doloso pela morte de Eloá e duas tentativas de homicídio contra Nayara e o sargento da Força Tática da PM Atos Antonio Valeriano. Ele foi o primeiro PM a tentar negociar a libertação dos reféns.
O ex-namorado de Eloá também poderá ser indiciado por uma terceira tentativa de homicídio, contra o sargento Daylson Moreira, do Gate, que teve seu escudo perfurado. A perícia irá dizer se ele foi provocado por tiro efetuado por Lindemberg. Ele ainda vai responder por cárcere privado e por colocar a vida de outras pessoas em risco.
Mesmo preso numa cela isolada dos demais presos no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, Lindemberg é ameaçado de morte por eles.

Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Não há pressa para depoimento, afirma secretário
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.