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Motivação do crime é mistério, diz acusação
"Isso é algo a que ele terá de responder", afirma a procuradora Valderez Abbud, que atuou no julgamento do ex-promotor
No fim de julho, procurador-geral de Justiça pediu que secretário da Segurança desse prioridade à prisão do ex-promotor
DA REPORTAGEM LOCAL
Para a procuradora de Justiça Valderez Deusdit Abbud, o
maior mistério sobre o assassinato de Patrícia Aggio Longo,
27, em 1998, talvez nunca seja
esclarecido: o que levou o então
promotor Igor Ferreira da Silva, à época com 32 anos, a atirar
contra sua mulher?
Responsável pela acusação
contra Igor durante seu julgamento, a procuradora acredita
que a motivação do crime é um
"desígnio insondável da alma
humana" a ser descoberto.
"O porquê de ter matado a
Patrícia ele nunca disse porque
ele negava a autoria. Nós não fizemos referência à motivação
do crime na denúncia [à Justiça]. Então, isso é algo a que ele
terá de responder", disse ela.
"A prisão do Igor é a demonstração de que ninguém está acima da lei", afirmou.
O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Fernando Grella Vieira, encaminhou, no fim
de julho, um ofício ao secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, reiterando a
necessidade de a polícia prender o ex-promotor. Ontem,
praticamente ao mesmo tempo
em que o site da secretaria
anunciava a prisão, Ferreira
Pinto ligou para o chefe do Ministério Público para avisá-lo.
Para Vieira, o fato de Igor ter
passado tanto tempo foragido
transmitia sensação de impunidade à sociedade. "Isso incomodava toda a instituição [Ministério Público]", disse.
O tempo que Igor passou foragido não influenciará na pena
de 16 anos e quatro meses de
prisão a que foi condenado em
2001. Para conseguir benefícios
de progressão de regime, ele terá de cumprir 1/6 da pena, segundo a procuradora Valderez.
Igor foi destituído do cargo
em 4 de janeiro de 2006. À época, o então procurador-geral,
Rodrigo César Rebello Pinho,
escreveu: "O Ministério Público torna patente a sua incompatibilidade com o promotor
homicida". Seu salário -cerca
de R$ 6.000-, havia sido suspenso em 2001 logo após ele ser
considerado foragido.
Na noite de ontem, na sede
da 5ª Delegacia Leste da Polícia
Civil, o ex-promotor Igor disse
uma frase à imprensa, enquanto era transferido: "Eu me pronunciarei em momento oportuno, mas houve violação dos
direitos humanos".
A mãe e dois irmãos de Igor
foram à delegacia, à noite. A família ficou reunida cerca de
uma hora. Nenhum parente
quis falar com a reportagem.
Nenhum advogado se apresentou como defensor de Igor.
(ANDRÉ CARAMANTE e ROGÉRIO PAGNAN)
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