São Paulo, terça-feira, 20 de outubro de 2009

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Motivação do crime é mistério, diz acusação

"Isso é algo a que ele terá de responder", afirma a procuradora Valderez Abbud, que atuou no julgamento do ex-promotor

No fim de julho, procurador-geral de Justiça pediu que secretário da Segurança desse prioridade à prisão do ex-promotor

DA REPORTAGEM LOCAL

Para a procuradora de Justiça Valderez Deusdit Abbud, o maior mistério sobre o assassinato de Patrícia Aggio Longo, 27, em 1998, talvez nunca seja esclarecido: o que levou o então promotor Igor Ferreira da Silva, à época com 32 anos, a atirar contra sua mulher?
Responsável pela acusação contra Igor durante seu julgamento, a procuradora acredita que a motivação do crime é um "desígnio insondável da alma humana" a ser descoberto.
"O porquê de ter matado a Patrícia ele nunca disse porque ele negava a autoria. Nós não fizemos referência à motivação do crime na denúncia [à Justiça]. Então, isso é algo a que ele terá de responder", disse ela.
"A prisão do Igor é a demonstração de que ninguém está acima da lei", afirmou.
O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Fernando Grella Vieira, encaminhou, no fim de julho, um ofício ao secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, reiterando a necessidade de a polícia prender o ex-promotor. Ontem, praticamente ao mesmo tempo em que o site da secretaria anunciava a prisão, Ferreira Pinto ligou para o chefe do Ministério Público para avisá-lo.
Para Vieira, o fato de Igor ter passado tanto tempo foragido transmitia sensação de impunidade à sociedade. "Isso incomodava toda a instituição [Ministério Público]", disse.
O tempo que Igor passou foragido não influenciará na pena de 16 anos e quatro meses de prisão a que foi condenado em 2001. Para conseguir benefícios de progressão de regime, ele terá de cumprir 1/6 da pena, segundo a procuradora Valderez.
Igor foi destituído do cargo em 4 de janeiro de 2006. À época, o então procurador-geral, Rodrigo César Rebello Pinho, escreveu: "O Ministério Público torna patente a sua incompatibilidade com o promotor homicida". Seu salário -cerca de R$ 6.000-, havia sido suspenso em 2001 logo após ele ser considerado foragido.
Na noite de ontem, na sede da 5ª Delegacia Leste da Polícia Civil, o ex-promotor Igor disse uma frase à imprensa, enquanto era transferido: "Eu me pronunciarei em momento oportuno, mas houve violação dos direitos humanos".
A mãe e dois irmãos de Igor foram à delegacia, à noite. A família ficou reunida cerca de uma hora. Nenhum parente quis falar com a reportagem. Nenhum advogado se apresentou como defensor de Igor. (ANDRÉ CARAMANTE e ROGÉRIO PAGNAN)

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