São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2010

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Polícia descobre "tribunal do crime" na zona leste de SP

Segundo a investigação, facção criminosa "julgava" inimigos e os matava com picaretas e cordas de varal

5 corpos foram achados em valas; suspeita é que cerca de 20 pessoas tenham sido mortas após os "julgamentos"

AFONSO BENITES
RACHEL AÑÓN
DE SÃO PAULO

Após dois meses de investigação, a Polícia Civil de São Paulo descobriu a existência de um tribunal paralelo criado por uma facção criminosa na zona leste da capital.
Nele, os membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) "julgavam" e torturavam seus inimigos e, em casos de condenação, os matavam com cordas de varal ou golpes de picareta na cabeça.
"Eles não usavam armas de fogo porque sabiam que a polícia seria informada dos disparos", disse o delegado Antonio Carlos Heib, do Deic (departamento que investiga o crime organizado).
Ontem, ele anunciou a prisão de quatro suspeitos. Um dos supostos chefes do tribunal paralelo está foragido.
Entre os "sentenciados" estavam inimigos da facção e criminosos, classificados como devedores, falsos profetas, pedófilos ou "coisas".
A polícia encontrou cinco corpos em valas de até 1,5 m de profundidade -todos em estágio avançado de decomposição, em uma área isolada e de mata fechada no bairro Cidade Tiradentes. Eles só poderão ser identificados por meio de exames de DNA.
A suspeita é que cerca de 20 pessoas tenham sido assassinadas nesse local. Um dos mortos foi "julgado" depois de acertar um tiro em um membro do PCC.
Antes dos assassinatos, havia tortura psicológica. O "julgamento" acontecia em um barraco, onde a pena era decidida, via celular, por alguém de dentro de um presídio. O "réu" fazia sua defesa.
Quando "condenada" à morte, a vítima era levada a pé por cerca de 1 km pela mata fechada e assassinada ao lado de sua cova. Cada vala ficava a 500 metros da outra.
Os suspeitos disseram aos investigadores que já houve casos de "absolvição".

A INVESTIGAÇÃO
Os policiais chegaram ao grupo durante investigações de assaltos a condomínios.
Descobriram que os suspeitos não tinham relação com os roubos, e sim com tráfico.
Acabaram encontrando o "tribunal paralelo".
Marcel Andrade de Oliveira, o Barata, 27, Adriano Andrade do Nascimento, 29, Lincoln Luiz da Silva, 21, e Alan Flávio Santos, 31, foram presos sob suspeita de tráfico de drogas. Agora, eles serão indiciados sob suspeita de homicídio doloso (intencional). Gilmar Magalhães Lima, o Má, 28, suposto chefe do bando, está foragido.
A reportagem não teve acesso aos presos e não localizou seus advogados. Em depoimentos, segundo a polícia, alguns admitiram participação nos "julgamentos".

FOLHA.com
Veja imagens divulgadas pela polícia do local onde foram encontrados corpos de vítimas
folha.com.br/ct816614


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