São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2011

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Taubaté tinha central de rins, diz promotor

Julgamento de três médicos acusados de apressar a morte de pacientes para retirar os órgãos deve acabar hoje

Advogado diz que grupo não cometeu irregularidades e que todas as cirurgias têm prontuário registrado

ELIANE TRINDADE
ENVIADA ESPECIAL A TAUBATÉ

Uma central de remessa de rins para pacientes ricos de São Paulo. Assim o promotor Marcio Augusto Friggi de Carvalho definiu o trabalho do grupo de médicos de Taubaté (140 km de SP) que realizava a retirada de órgãos de pacientes para transplantes.
A afirmação foi feita ontem na exposição do promotor ao júri pedindo a condenação de três médicos por homicídio doloso (intencional). O urologista Rui Noronha Sacramento, o nefrologista Pedro Henrique Torrecilhas e o neurocirurgião e legista Mariano Fiore Júnior são acusados de utilizar diagnósticos falsos de morte encefálica para extrair rins de quatro pessoas em 1986. Eles negam. De acordo com Carvalho, pelo menos duas pessoas que receberam rins de pacientes em Taubaté foram rastreadas.
As investigações, diz ele, comprovaram que os órgãos foram para o hospital Oswaldo Cruz, onde havia uma fila própria de transplante. O custo da cirurgia variava de 100 mil a 150 mil cruzados novos -o equivalente a R$ 35 mil e R$ 70 mil, respectivamente. "Não foi montado um programa de transplantes, mas sim uma central de remessas de órgãos para ricos em São Paulo", disse o promotor.

'COITADOS'
Miguel da Silva, Alex de Lima, Irani Gobo e José Faria Carneiro, vítimas de traumas ou aneurismas cerebrais, tiveram seus rins extirpados em 1986, em Taubaté.
"Os pacientes submetidos às nefrectomias bilaterais (retirada dos rins) eram uns coitados, como o filho de uma doméstica analfabeta", afirmou o promotor.
João Romeu Goffi Filho, advogado dos médicos, disse que amostras de sangue dos doadores eram testadas à procura de receptores compatíveis. "Só isso põe abaixo alegações maldosas de comercialização de órgãos."
Os réus não respondem por tráfico de órgãos, mas por apressar ou contribuir para a morte dos pacientes. A Promotoria usa laudos do Conselho Regional de Medicina, que, segundo ele, concluíram que não há elementos suficientes para atestar que os pacientes estavam com morte encefálica.
A defesa diz que a comprovação foi feita em exames clínicos e registrada nos prontuários. O hospital Oswaldo Cruz confirmou os transplantes, à época da denúncia, mas negou irregularidade.
O julgamento, que entra no quarto dia, deve terminar hoje. Se condenados, os médicos podem pegar de seis a 20 anos de prisão.


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