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RESERVA DE MERCADO
Convênios firmados desde 98 já formaram 300 alunos em áreas como história, geografia e agronomia
MST já fez parceria com 13 universidades
DA REPORTAGEM LOCAL
Parcerias como as que a USP e o
MST estão em vias de firmar para
a realização do curso pedagogia
da terra já acontecem em 13 universidades federais e estaduais,
espalhadas por todo o país.
A Universidade Estadual Paulista, a Unesp, também está nos últimos trâmites para aprovar um
curso de geografia voltado para os
sem-terra.
Segundo o geógrafo da Unesp
Bernardo Mançano Fernandes,
membro do conselho pedagógico
do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, os convênios firmados desde 1998 já
produziram 300 formados nas
áreas de história, geografia, agronomia e pedagogia, as escolhidas
pela direção do MST como prioritárias para a "melhoria das condições de vida nos assentamentos".
No caso do curso de geografia a
ser oferecido pela Unesp aos sem-terra, as aulas serão ministradas
no campus de Presidente Prudente (interior de SP). Os alunos provenientes de regiões distantes ficarão alojados no seminário da
diocese de Presidente Prudente,
cedido pelo bispo da região.
"Melhores escolas"
O MST já emplacou convênios
com as federais de Rondônia, Pará, Ceará, Paraíba, Rio Grande do
Norte, Sergipe, Minas Gerais e Espírito Santo. Também tem parcerias com as estaduais de Pernambuco, Bahia, Mato Grosso, do
Oeste do Paraná e do Rio Grande
do Sul. "Estamos nas melhores escolas", diz o professor.
"Queremos mais. Nosso sonho
é criar uma universidade camponesa, que pense o campo a partir
da agricultura familiar e não do
agrobusiness, ponto de partida e
de chegada das universidades tradicionais", afirma Mançano, afinado com as diretrizes do MST.
Segundo ele, "outros movimentos sociais deveriam também exigir a abertura de cursos especiais
em várias universidades, como
faz o MST. Isso é um investimento
social mais valioso do que o bolsa
isso, bolsa aquilo".
Meritocracia
O professor Paulo Renato Souza, ex-reitor da Universidade Estadual de Campinas e ministro da
Educação durante o governo Fernando Henrique Cardoso, considera um erro a criação de cursos
especiais de graduação voltados
especificamente para os sem-terra. "A ciência que vale para um cidadão comum deveria ser a mesma que vale para um trabalhador
sem terra. Então, a graduação deveria ser a mesma."
Segundo o professor, a criação
de um sistema diferenciado para
os sem-terra, mais tolerante e menos rigoroso nas avaliações, fere o
princípio da qualidade, que deve
nortear o funcionamento das universidades.
"O desejo de ampliar o acesso
ao ensino superior ao mesmo
tempo em que se sacrificava a
qualidade do ensino e da pesquisa
foi o erro da maioria das universidades latino-americanas", afirma
o professor. "Temo que estejamos
tardiamente realizando o mesmo
movimento nefasto."
Paulo Renato acredita que as
universidades públicas poderiam
oferecer cursos para sem-terra ou
quaisquer grupos especiais por
intermédio de convênios. Mas
não com status de graduação.
"Para a graduação, o correto é
combater a reserva de vagas e defender o vestibular aberto a todos
os candidatos."
(LC)
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