São Paulo, domingo, 20 de novembro de 2005

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RESERVA DE MERCADO

Convênios firmados desde 98 já formaram 300 alunos em áreas como história, geografia e agronomia

MST já fez parceria com 13 universidades

DA REPORTAGEM LOCAL

Parcerias como as que a USP e o MST estão em vias de firmar para a realização do curso pedagogia da terra já acontecem em 13 universidades federais e estaduais, espalhadas por todo o país.
A Universidade Estadual Paulista, a Unesp, também está nos últimos trâmites para aprovar um curso de geografia voltado para os sem-terra.
Segundo o geógrafo da Unesp Bernardo Mançano Fernandes, membro do conselho pedagógico do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, os convênios firmados desde 1998 já produziram 300 formados nas áreas de história, geografia, agronomia e pedagogia, as escolhidas pela direção do MST como prioritárias para a "melhoria das condições de vida nos assentamentos".
No caso do curso de geografia a ser oferecido pela Unesp aos sem-terra, as aulas serão ministradas no campus de Presidente Prudente (interior de SP). Os alunos provenientes de regiões distantes ficarão alojados no seminário da diocese de Presidente Prudente, cedido pelo bispo da região.

"Melhores escolas"
O MST já emplacou convênios com as federais de Rondônia, Pará, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe, Minas Gerais e Espírito Santo. Também tem parcerias com as estaduais de Pernambuco, Bahia, Mato Grosso, do Oeste do Paraná e do Rio Grande do Sul. "Estamos nas melhores escolas", diz o professor.
"Queremos mais. Nosso sonho é criar uma universidade camponesa, que pense o campo a partir da agricultura familiar e não do agrobusiness, ponto de partida e de chegada das universidades tradicionais", afirma Mançano, afinado com as diretrizes do MST.
Segundo ele, "outros movimentos sociais deveriam também exigir a abertura de cursos especiais em várias universidades, como faz o MST. Isso é um investimento social mais valioso do que o bolsa isso, bolsa aquilo".

Meritocracia
O professor Paulo Renato Souza, ex-reitor da Universidade Estadual de Campinas e ministro da Educação durante o governo Fernando Henrique Cardoso, considera um erro a criação de cursos especiais de graduação voltados especificamente para os sem-terra. "A ciência que vale para um cidadão comum deveria ser a mesma que vale para um trabalhador sem terra. Então, a graduação deveria ser a mesma."
Segundo o professor, a criação de um sistema diferenciado para os sem-terra, mais tolerante e menos rigoroso nas avaliações, fere o princípio da qualidade, que deve nortear o funcionamento das universidades.
"O desejo de ampliar o acesso ao ensino superior ao mesmo tempo em que se sacrificava a qualidade do ensino e da pesquisa foi o erro da maioria das universidades latino-americanas", afirma o professor. "Temo que estejamos tardiamente realizando o mesmo movimento nefasto."
Paulo Renato acredita que as universidades públicas poderiam oferecer cursos para sem-terra ou quaisquer grupos especiais por intermédio de convênios. Mas não com status de graduação. "Para a graduação, o correto é combater a reserva de vagas e defender o vestibular aberto a todos os candidatos." (LC)


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