São Paulo, terça-feira, 20 de novembro de 2007

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SWAT ensina policiais do Brasil a não atirar

Policial da unidade de elite de Dallas, nos EUA, diz que participou de inúmeras ações, mas que nunca efetuou um disparo

Segundo os americanos, atirar é sempre o último recurso e danos colaterais não são aceitáveis; curso ocorreu em Porto Alegre

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Policiais no curso ministrado no 9º SWAT Cati (Centro de Imobilização Tática Avançada, em inglês), que ocorreu em Porto Alegre

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

Christian D'Alessandro é há 13 anos um dos 50 policiais da SWAT, unidade de elite de Dallas, Texas (EUA). Aos 50 anos, participou de inúmeras ações táticas de resgate, mas jamais atirou em ninguém. Conta que já esteve em meio a tiroteios, mas não precisou disparar.
"Nunca atirei em ninguém, nem estive na posição de ter de atirar. Atuamos para resolver os problemas de forma aceitável. Nossas táticas são arrebatadoras e em quase 100% dos casos dispensam o tiro. São baseadas na velocidade, surpresa e "violência de ação" (intimidação agressiva e enérgica)", diz.
No 9º SWAT Cati (Centro de Imobilização Tática Avançada, em inglês), em Porto Alegre, no início do mês, cinco policiais da unidade de elite ensinaram a 114 agentes do Brasil que atirar é sempre o último recurso.
Trata-se de uma mudança de paradigma para a polícia brasileira, uma das mais letais do mundo. Só nos primeiros nove meses do ano, as polícias do Rio mataram 961 pessoas em suposto confronto. Segundo o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, as polícias do Rio matam mais que todas as dos EUA juntas.
Por nove dias, os instrutores da SWAT e de outras polícias deram aulas de "assalto (ataque) a ônibus [com criminosos e/ou reféns]", "combate em ambientes confinados" e "em ambientes com pouca luz".
Segundo os policiais da SWAT, as reações dos criminosos são duas: "Flight or fight" ["fugir ou lutar" em inglês].
Vídeos apresentados para alguns alunos e disponíveis na internet mostram que a surpresa, a superioridade de homens e material, além da velocidade em intervenções muitas vezes inviabilizam a reação.
Para aprender a não atirar, os policiais precisam saber apertar o gatilho na hora certa, dizem os americanos. Por isso, os alunos treinaram técnicas de tiro em movimento.
"Você tem de salvar uma criança de 3 anos. Precisa salvar e tem que ser agora! Vocês são guerreiros, tem de salvar as pessoas que não podem se defender! Estão matando gente atrás dos alvos! Somos policiais, não podemos aceitar danos colaterais. Só atirem rápido se forem precisos!", gritava D'Alessandro para os alunos.
A SWAT de Dallas conta com duas unidades, com quatro esquadrões cada. São 50 pessoas -sendo um chefe, dois tenentes e oito sargentos, além das equipes de ação. São cinco dias de trabalho para dois de folga, intenso treino físico e de tiro.
Marcos do Val, fundador e presidente do Cati, explica a diferença entre o Bope e a SWAT. "Quem eu chamaria numa situação de risco? Se tem refém, é claro que é a SWAT. Se é numa favela, é o Bope. Cada macaco no seu galho."
Três policiais do Bope deram instrução de "progressão em favela", especialidade da unidade carioca. Um deles foi o major Ricardo Soares -que, como a Folha mostrou, ironizou em palestra do curso como o seqüestrador Sandro do Nascimento, do ônibus 174, morreu depois que ele o asfixiou.


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