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Polícia indiciará ex-chefes da Infraero e Anac por acidente
Lista de indiciados no caso da TAM inclui ainda dois funcionários da empresa aérea
José Carlos Pereira, ex-presidente da Infraero, e Denise Abreu, ex-diretora da Anac, estão na lista; pena
prevista é de até seis anos
DA REPORTAGEM LOCAL
A polícia de São Paulo anunciou ontem o nome das dez pessoas que serão indiciadas sob
acusação de serem responsáveis pelo maior acidente da história da aviação brasileira, em
julho de 2007, com 199 mortes.
Na lista estão os principais
dirigentes da Infraero e da
Anac na época, como os ex-presidentes José Carlos Pereira
(Infraero) e Milton Zuanazzi
(Anac), além da ex-diretora Denise Abreu (Anac) e do diretor
de segurança de vôo da TAM,
Marco Aurélio dos Santos de
Miranda e Castro.
Os dez serão indiciados pelo
crime de atentado contra a segurança do transporte aéreo,
com pena de detenção de até
seis anos. Para a Polícia Civil, o
acidente foi provocado por
uma série de fatores que vão da
qualidade da pista de Congonhas até o treinamento inadequado dos pilotos da TAM.
Por ser considerado um crime federal, o inquérito será encaminhado ao Ministério Público Federal. O indiciamento
não significa que eles serão denunciados à Justiça. Quem decide isso é o promotor ou o procurador. Por isso, essa lista poderá ser alterada.
No total, serão indiciados
cinco funcionários e ex-funcionários da Anac, três da Infraero
e dois da TAM (veja quadro
completo nesta pág.). Apesar de
ser considerada como co-responsável pela tragédia, a empresa francesa Airbus, fabricante da aeronave que caiu em
Congonhas, não teve nenhum
de seus funcionários apontados
na investigação. A polícia informou que caberá a Justiça decidir como será apontado o responsável da empresa.
Também ficou de fora dessa
lista o então presidente da
TAM, Marco Antonio Bologna.
Segundo o delegado Antonio
Carlos Menezes Barbosa, Bologna viajava na época do acidente e não ficou comprovada
participação dele em ato ligado
à tragédia. "Nós não poderíamos responsabilizá-lo porque
não encontramos um nexo de
causalidade. [...] É como se a
gente encontrasse uma lata de
sardinha vencida num supermercado de um grupo, o Extra,
por exemplo, e nós responsabilizássemos o Abílio Diniz".
O indiciamento das dez pessoas deve ocorrer a partir de segunda-feira.
Quem é quem
Como o grupo ainda não foi
oficialmente indiciado, a polícia não quis adiantar qual é a
acusação contra cada um dos
seus integrantes. "Não vou tecer comentários a respeito de
cada uma delas porque também estaria antecipando aquilo
que eu posso eventualmente
perguntar no interrogatório",
justificou Barbosa.
Em linhas gerais, o delegado
informou que houve um fator
principal para o acidente: a posição errada dos manetes. Como "fatores contribuintes", ele
menciona uma série de ações
que deixaram de ser adotadas
pela Infraero, pela Anac e pela
TAM e que colaboraram para o
desfecho trágico do vôo.
Um dos problemas citados
pelo policial é a falta de exames
que deveriam ter sido feitos na
pista de Congonhas, que tinha
voltado a operar no dia 29 de
junho (o acidente ocorreu no
dia 17 de julho). "Haveria a necessidade de medir o coeficiente de atrito. Pelo número de incidentes da véspera [11], seria
prudente a interdição da pista
até para fazer esses exames",
disse o delegado.
Ele também citou duas reuniões entre dirigentes da Anac
com as empresas de transporte
aéreo nas quais foram discutidos os riscos dos pousos em
Congonhas. "Havendo a previsibilidade, que é a essência da
culpa, nós não poderíamos deixar de apontar essas pessoas
-quer por ação ou por omissão", disse Barbosa. "De acordo
com a investigação, houve uma
inadequada liberação da pista,
da qual participou a Infraero e a
Anac. O ex-presidente da Infraero está sendo apontado,
com outros funcionários da
Anac, exatamente por não ter
impedido que essa pista fosse
liberada nessas condições."
(ROGÉRIO PAGNAN, EVANDRO SPINELLI E FÁBIO TAKAHASHI)
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