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Senado devolve MP das filantrópicas
Projeto foi alvo de contestações do presidente da Casa, que mandou proposta de volta para o governo
Parecer havia considerado o texto inconstitucional; decisão foi bem recebida até por governistas, mas foi criticada pelo presidente da Câmara
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN),
cumpriu ontem a ameaça e devolveu ao governo a medida
provisória 446, que anistia as
entidades filantrópicas ameaçadas de perder a isenção fiscal.
A decisão, a segunda do tipo
desde 1989, contou com o apoio
dos líderes da oposição, que
obstruíram as votações como
forma de pressioná-lo a devolver a MP. O líder do governo no
Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), ingressou com recurso para tentar rever a decisão.
Entretanto, a coordenação
política do governo disse, à noite, que não faria mais nada (leia
texto nesta página).
Garibaldi baseou-se em um
artigo do regimento interno do
Senado que permite ao presidente da Casa "impugnar as
proposições que lhe pareçam
contrárias à Constituição, às
leis ou a este regimento, devolvendo-as ao seu autor".
O ministro Patrus Ananias
(Desenvolvimento Social e
Combate à Fome) esteve ontem no Senado para tentar convencer os senadores a aprovar a
medida provisória. Garibaldi
não permaneceu na reunião,
alegando outros compromissos. Quem recebeu o ministro
foi o senador Heráclito Fortes
(DEM-PI), um dos que mais
contestaram a MP.
Fortes já havia obtido parecer da consultoria do Senado
considerando a MP inconstitucional, pois ela isenta as instituições sem verificar se preenchem os requisitos para manterem os certificados de filantropia. Desde a edição da medida,
na última semana, Garibaldi fez
apelos para que o governo a retirasse. Ameaçou devolvê-la.
MP rejeitada
A primeira tentativa de se devolver ao Executivo uma medida provisória não foi bem-sucedida. Em 1989, o então presidente em exercício do Senado,
José Ignácio Ferreira (ES), devolveu uma MP editada pelo
então presidente José Sarney,
hoje senador pelo PMDB do
Amapá, que extinguia o Grupo
Executivo de Transportes e outras estatais.
Logo depois, porém, o então
senador Nelson Carneiro reassumiu a presidência do Senado
e revogou a decisão.
Garibaldi ganhou ontem o
apoio até de parlamentares da
base aliada. O senador Flávio
Arns (PT-PR) disse, em discurso no plenário, que a decisão foi
acertada. Garibaldi foi chamado de "estadista".
Já o presidente da Câmara,
deputado Arlindo Chinaglia
(PT-SP), fez ressalvas à atitude
de Garibaldi. Segundo ele, uma
decisão como esta cabe apenas
ao plenário das duas Casas.
"Não sei no que ele se baseou. A
MP tem força de lei. Cabe ao
plenário tomar a decisão. Essa
é a compreensão", disse.
De acordo com a Secretaria
Geral da Câmara, apenas o plenário poderia devolvê-la após
rejeitar a sua admissibilidade.
A MP chegou ao Congresso
sob o estigma de que beneficiaria entidades fraudadoras, o
que desagradou parlamentares
que se viram acusados de promover um "trem da alegria".
O líder do governo chegou a
comentar na época que ela trazia "dez bodes", numa referência aos pontos polêmicos.
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