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Aluno da rede estadual fica até 6 meses sem professor
Governo não consegue contratar profissionais para cobrir licenças temporárias
Docente prefere esperar vaga com tempo maior de trabalho, pois lei ordena que, após 1 ano, fique 200 dias afastado
TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO
RAPHAEL MARCHIORI
DO "AGORA"
A prova do Saresp (que
avalia o aprendizado anual
de alunos da rede paulista)
teve um gostinho amargo para Lia, 13, nesta semana.
Apesar de boa aluna, ela
não soube responder a parte
das questões de português.
E não foi por falta de estudo. "Foi por falta de professor", diz Cléo, 33, mãe dela.
A professora de português
de Lia na Joaquim Leme do
Prado, zona norte da capital,
está de licença há três meses
e nenhum outro docente a
substituiu. Os alunos ficam
na sala ou no pátio "sem fazer nada", diz a menina. Mesmo sem aulas, ou avaliação,
ela teve nota 8 no bimestre.
Lia é uma das vítimas de
um problema que aconteceu
em muitas escolas estaduais
de SP ao longo do ano.
A Folha escutou relato semelhante em outras 11 escolas, de todas as regiões da cidade e da Grande SP. Em algumas, os estudantes chegaram a ficar até seis meses sem
uma determinada disciplina.
Em Araraquara, interior
do Estado, alunos do 3º ano
fizeram um boicote ao Saresp, pois afirmam que não
tiveram aulas regulares de
química, história e física desde o começo do ano.
A falta de professores é
consequência de uma lei estadual, de 2009, que determina que funcionários contratados sem concurso podem
trabalhar por no máximo um
ano. Depois, eles devem ficar
afastados por 200 dias para
evitar vínculo empregatício.
Por isso, poucos professores não estáveis (cerca de
10% da categoria) aceitam
cobrir licenças temporárias.
Preferem esperar por vagas
com mais tempo de trabalho
ou até desistem da profissão.
A situação deve piorar no
próximo ano, pois os professores que deram aula neste
ano terão que se afastar até o
início do segundo semestre.
A Secretaria Estadual da
Educação reconhece o problema e diz que tentará modificar a legislação neste ano.
AULA VAGA
Os alunos dizem ainda que
a ausência dos professores
não costuma ser suprida por
atividades escolares.
"A gente traz jogo e fica jogando dentro da sala", diz
Renata, 12, aluna da escola
Castro Alves, na zona norte.
Ela ficou dois meses sem ter
aula de história neste ano.
Na escola, estudantes do
3º ano do ensino médio também ficaram cerca de seis
meses sem aula de filosofia.
A vice-diretora de uma escola confirmou aos pais o
problema numa reunião que
a Folha acompanhou: "Me
parte o coração ver crianças
assim. Mas nenhum professor quer pegar essas aulas".
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