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São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2003

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SEGURANÇA

Perfil de sequestradores muda após morte ou prisão de líderes; novas estratégias dificultam ação da polícia

"Segundo escalão" assume sequestros em SP

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ontem, eles só cumpriam ordens. Hoje, estão no comando. Ex-integrantes do segundo e terceiro escalões de quadrilhas de sequestradores em São Paulo assumiram a liderança após a prisão ou morte de seus antigos chefes.
Os integrantes dessa "nova geração" têm atuação mais limitada, não agem em outros Estados como alguns de seus antecessores, mas não são amadores, como a maioria dos criminosos que atuou na área durante a explosão do número de sequestros em 2001 e em 2002. Suas novas estratégias -como diminuir os contatos com a família e usar telefones clonados por um período curto- têm dificultado a ação da polícia.
Em um ano e meio, a lista dos sequestradores mais procurados da DAS (Divisão Anti-Sequestro) de São Paulo mudou completamente. Eles foram presos ou mudaram de crime. Só que, no lugar, surgiram novos líderes, que continuam fazendo sequestros, mas em menor número -o quarto trimestre deste ano registrou 26 sequestros até agora, contra 52 casos no mesmo período de 2002.
Hoje, os "cabeças" chegam a cerca de 15 homens, diz o diretor da DAS, Wagner Giudice (quadro acima fornece dados sobre nove deles). Um dos exemplos de alteração na liderança, segundo a DAS, é o grupo comandado anos atrás por Alessandro Lima da Silva, 20, o Bingolau, e Edson da Silva Fraga, 22, o Dinho. Suspeitos de comandar mais de 20 sequestros na zona sul da capital paulista, os dois foram mortos em um confronto com a polícia, em 2001.
Na época, Reginaldo Meira Santos, o Régis, e Osmir Donizete Grigoletto, o Osni, eram apenas integrantes do segundo e terceiro escalões da mesma quadrilha, sediada em Diadema (Grande SP).
Atualmente, Régis, 24, e Osni, 31, tornaram-se líderes de uma das quadrilhas mais ativas no Estado em relação ao número de sequestros -fazem vários, com valores de resgate menores, para garantir a rotatividade.
O grupo sempre tem alguém em cativeiro, segundo o delegado Carlos Castiglioni, da 1ª Delegacia da DAS. "Alguns dias antes de libertar o refém, eles capturam outro e usam o mesmo cativeiro."
Wodson Carlos Pio de Lima, 26, conhecido como Pio ou Café, também aprendeu a sequestrar com o antigo líder de sua quadrilha. Gilmar Santos Neves, o Mancha, foi preso em 2002.
Segundo a DAS, Pio assumiu a quadrilha e continua atuando na zona leste de São Paulo e em municípios da região metropolitana, como Arujá e Santa Isabel.
Eliezer Ferreira Viana Júnior, o Alemão, 34, foi outro procurado que só apareceu na lista da DAS após Eduardo Souza Benevenuto Filho, 22, o Gordinho, ser preso neste ano. Gordinho liderava o grupo que atuava em sequestros, roubos e sequestros relâmpagos na zona sul da capital paulista.
Segundo a DAS, esses novos líderes trouxeram mudanças em relação aos seus chefes. "Os sequestros estão mais longos, os sequestradores estão estudando melhor as suas vítimas e os contatos com a família diminuíram. Os criminosos estão mais cautelosos e mais cruéis", disse Giudice.
No sequestro resolvido na última terça-feira, um jovem de 17 anos teve o dedo decepado e enviado para sua família.
A quadrilha de Odair Francisco de Morais, 29, o Gardenal, também é considerada violenta pela polícia. O grupo costuma gravar imagens do refém no cativeiro e enviar para a família. "Há casos em que as vítimas foram espancadas no cativeiro", disse Giudice.


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