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SAÚDE
Documento cita convênios que beneficiariam a Fundação Ary Frauzino, que receberia por serviços executados pelo instituto
Relatório aponta irregularidades no Inca
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Um relatório feito pelo Ministério da Saúde ao qual a Folha teve
acesso aponta irregularidades na
relação entre o Inca (Instituto Nacional de Câncer) e a FAF (Fundação Ary Frauzino), entidade privada presidida por um ex-diretor
do instituto. Criada em 1991, a
FAF tem o objetivo de ajudar o Inca, órgão do ministério.
A principal conclusão dos autores do relatório é que a relação da
FAF com o Inca "está sendo benéfica apenas ou mais significativamente para a fundação". Para
chegar a essa conclusão, eles citam procedimentos considerados
irregulares ou pouco benéficos
para o instituto. Em diversos convênios, aponta o relatório, "o Ministério da Saúde paga, o Inca
executa e a FAF fatura".
O relatório cita um contrato assinado com a empresa privada
Schering em que "a FAF recebe os
valores correspondentes a um
serviço ou pesquisa onde são utilizadas instalações e recursos humanos e materiais do Inca para o
favorecimento de um laboratório
farmacêutico particular".
O contrato, de acordo com o
documento, foi assinado em maio
deste ano para a realização de
uma pesquisa que está sendo
coordenada pela chefe do laboratório de hematologia celular e
molecular do Hospital do Câncer,
vinculado ao Inca.
Um dos itens do contrato prevê
que a Schering deterá a titularidade e proteção legal dos estudos e
resultados obtidos e poderá requerer patentes no Instituto Nacional de Propriedade Industrial.
O relatório cita contratos com
empresas privadas em que, apesar do emprego de pessoal e infra-estrutura do Inca, o pagamento
reverte para a fundação.
Os técnicos que elaboraram o
documento questionam ainda a
ausência de licitações nas compras da fundação, sob alegação de
ser uma entidade privada e estar
desobrigada de realizar licitações.
O relatório cita, no entanto, que
93% das receitas operacionais da
fundação são oriundas do SUS
(Sistema Único de Saúde) e 6%
vêm de outras prestações de serviços realizadas pelo Inca. Ou seja,
apenas 1% das receitas não tem
origem pública.
Os autores do relatório citam o
resultado de uma auditoria nas
contas da fundação que aponta
um aumento do patrimônio líquido de R$ 62,9 mil em 1998 para R$
121,4 mil em 2002 -um crescimento de 93%.
Em abril de 2003, a auditoria
apontava um aumento de 150%
no superávit da fundação em relação a 2002, levando em conta as
receitas financeiras líquidas vindas de aplicações financeiras.
A saúde financeira da fundação,
segundo o relatório, contrasta
com a situação do Inca neste ano,
quando a unidade passou por
uma crise de desabastecimento.
O documento cita que a instituição tinha aplicado R$ 95 milhões
em 2002 em fundos de bancos privados, "enquanto o Inca entrava
em crise de abastecimento".
O documento foi elaborado por
uma equipe de dez técnicos do
Departamento Nacional de Auditoria do SUS. Além do relatório,
outros hospitais federais do Rio e
departamentos do Inca passaram
por auditorias.
Em 6 de outubro deste ano, o relatório recebeu um parecer do
consultor jurídico substituto do
ministério, Guilherme Benages
Alcantara, que sugeriu ao ministro da Saúde, Humberto Costa,
agir com a "máxima urgência tendo em vista a gravidade dos fatos
apontados".
Costa escreveu uma carta em 15
de outubro ao diretor-geral do Inca, José Gomes Temporão, pedindo providências.
O Inca foi palco de uma crise em
agosto deste ano, quando um grupo de diretores que se disseram
insatisfeitos com a gestão da equipe nomeada pelo ex-diretor-geral
Jamil Haddad ameaçou pedir demissão dos cargos. O movimento
acabou levando ao pedido de demissão de Haddad, substituído
no cargo por Temporão.
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