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Outro caso de tortura é investigado em Bauru
Construtor denunciou em março que policiais civis da cidade o torturaram com choque por suspeitar que ele fosse seqüestrador
Cidade é a mesma onde jovem morreu no último sábado, após levar choques de policiais militares; caso está no Ministério Público
TALITA BEDINELLI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BAURU
Antes de o garoto Carlos Rodrigues Júnior, 15, morrer torturado com choques após ser
abordado por policiais militares, um outro morador de Bauru (343 km de SP) já havia denunciado abusos similares por
parte da outra polícia, a Civil.
O construtor civil André Luiz
Araújo Costa, 37, registrou um
boletim de ocorrência na Corregedoria da Polícia Civil dizendo ter sido vítima de agressões e choques por todo o corpo
por seis horas em 29 de março.
A Secretaria da Segurança
Pública disse que a corregedoria abriu inquérito para investigar o caso, que foi enviado em
agosto ao Ministério Público
Estadual. Procurado ontem à
noite, o Ministério Público afirmou não ter como levantar informações àquela hora.
A reportagem achou Costa.
Ele disse que policiais à paisana
o abordaram em casa dizendo
que precisavam reparar uma
válvula. Ele afirma ter sido posto em um Fiesta prata, ter tido
um capuz colocado na cabeça e
ter sido levado a um local que,
descobriu depois, ser a sede do
Deinter-4 (Departamento de
Polícia Judiciária do Interior).
Seqüestro
O construtor disse que os policiais repetiam que ele tinha
envolvimento em um seqüestro cujo cativeiro foi em uma
chácara onde trabalhou. "Eles
me sufocaram, colocaram um
saco preto na minha cabeça e
falaram que eu tinha matado
uma criança, tinha seqüestrado", afirmou.
"Depois, eles me deram chutes, socos e pegaram o que parecia jornal enrolado, molharam e bateram no meu corpo.
Aí, pegaram uma máquina de
dar choques e deram no meu
pescoço, atrás da orelha, na palma da mão, sob a unha, na sola
do pé e na virilha."
Segundo Costa, os policiais
ainda o ameaçaram e disseram
que entrariam na casa dele à
noite se ele contasse para alguém o que tinha acontecido.
"Eles diziam que, se me matassem, não tinha problema porque ninguém tinha me visto
sair de casa com eles."
O construtor civil disse que
contou o que aconteceu no dia
seguinte a um amigo, o investigador particular Luiz Castro.
Castro, 47, afirmou ontem
que, depois, também levou socos e pontapés de policiais.
À Folha ele disse que os policiais tinham um mandado judicial para revistar a residência.
Ele diz que os policiais descobriram o fato porque o telefone
de Costa estava grampeado.
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