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São Paulo, terça-feira, 21 de janeiro de 2003

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RIO

O primeiro motim do governo de Rosinha Matheus (PSB) começou com a rendição dos soldados e a fuga de cerca de 30 presos

Detentos se rebelam e fazem 7 PMs reféns

Alexandre Campbell/Folha Imagem
Presos rebelados no telhado da casa de custódia



MÁRIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Sete policiais militares eram mantidos reféns desde o início da manhã de ontem por presos rebelados da Casa de Custódia Pedro Mello da Silva, no complexo penitenciário de Bangu (zona oeste do Rio de Janeiro). Foi a primeira rebelião da gestão de Rosinha Matheus (PSB), há 21 dias no cargo.
Às 19h30, o comandante-geral da PM, coronel Renato Hottz, informou que as negociações com os rebelados estavam interrompidas até a manhã de hoje.
Segundo a PM (Polícia Militar), a rebelião começou por volta das 6h30, depois de uma tentativa de fuga em massa dos detentos.
Com facas e estoques (facas artesanais), os detentos renderam os PMs quando era servido o café da manhã e tomaram revólveres e pistolas dos soldados. Depois, tomaram a unidade e ocuparam o teto. Cerca de 30 detentos saíram pela porta da frente da unidade.
Há informações, não confirmadas até o fechamento desta edição, de que presos teriam entrado no alojamento dos policiais e roubado fardas para escaparem vestidos de soldados. Algumas das armas roubadas teriam sido levadas por esses presidiários.
Com capacidade para 500 presos, as celas da Casa de Custódia Pedro Mello da Silva abrigam hoje 575 pessoas, todas ligadas à facção criminosa TC (Terceiro Comando). A PM cercou a unidade e impediu a fuga da maioria. Os que não conseguiram fugir fizeram sete policiais reféns, amarrando-os a botijões de gás. A PM suspeitava que os presos estivessem com quatro granadas.
Na fuga, houve tiroteio. Dois fugitivos, um baleado de raspão no pescoço e outro com um braço quebrado por causa de uma queda, foram hospitalizados. Com a ajuda de dois helicópteros, a polícia capturou mais três fugitivos.
Ao ser informado da rebelião, o comandante-geral da PM seguiu para o presídio com equipes do Bope (Batalhão de Operações Especial), do BPChoque (Batalhão de Choque) e do Getam (Grupamento Especial Tático Móvel) para negociar a liberação dos reféns.
Do lado de fora do complexo penitenciário, parentes temiam que os policiais invadissem a unidade e matassem os amotinados.
Parentes chegaram a fechar três vezes o tráfego na via de acesso ao complexo. O desespero das mulheres crescia quando carros do Bope entravam na unidade. Havia choro, gritos e cenas de histeria.
Hottz disse que vai investigar a possibilidade de PMs terem facilitado a ação dos presos.

Negociação
As negociações foram difíceis. Para soltar os reféns, os detentos exigiam a transferência de condenados e melhoria na alimentação, além da presença de jornalistas e representantes de entidades ligadas aos direitos humanos.
As reivindicações não haviam sido atendidas até a conclusão desta edição. Segundo Hottz, a principal dificuldade era o fato de não haver líder entre os rebelados.
A Folha entrou em contato, por celular, com um dos amotinados. O preso, que não quis se identificar, disse que, se a PM invadisse o local, eles explodiriam os reféns.
Uma das iniciativas já anunciadas pelo governo Rosinha Matheus é transferir a administração das casas de custódia, hoje com a PM, para o Desipe (Departamento de Sistema Penitenciário).


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