São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

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TRANSPORTE

Opção pelo deslocamento em veículo individual cresce na região metropolitana de São Paulo, em especial no ABCD

Andar só em carro supera uso de coletivo

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os deslocamentos por transporte individual na região metropolitana de São Paulo já superam os modos coletivos, num fenômeno que cresce e atinge maiores proporções principalmente nos municípios do ABCD paulista.
Nessa área, que já se consolida como símbolo da cultura do automóvel, 60,41% das viagens de seus moradores eram feitas em 2002 por meios de transporte individuais. De toda a Grande São Paulo, foi lá que, desde 1997, houve a maior elevação desses deslocamentos -por carros, táxis, motos e bicicletas, por exemplo.
Os resultados são da mais recente pesquisa OD (Origem/Destino) do Metrô, com dados levantados em 2002 e divulgados agora. Ela aponta que, na média da região metropolitana, pela primeira vez desde 1967 a proporção de viagens individuais (52,96%) ultrapassou as coletivas (47,04%).
No ABCD, esse cenário já era uma realidade na pesquisa de 1997, quando 54,87% dos deslocamentos eram feitos por transporte individual. Na capital paulista, nesse intervalo de cinco anos, mesmo com a restrição do rodízio de veículos (que proíbe a circulação de 20% da frota diariamente), essas viagens saltaram de 47,73% para 52,24% do total.
"É uma péssima notícia, uma ameaça ao nosso futuro", afirmou ontem Nazareno Stanislau Affonso, vice-presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), em referência aos efeitos danosos dos automóveis à qualidade de vida da população -que incluem congestionamentos, acidentes e poluição.
Os dados que apontam um enfraquecimento do transporte coletivo desanimaram os especialistas do setor até mesmo porque, num espaço de cinco anos, a evolução do transporte individual se aproximou das previsões que chegaram a ser feitas para 2020.
No Pitu 2020 (plano feito em 1999 por Estado e prefeituras), estimava-se que os deslocamentos por carro, motos, táxis e bicicletas atingiriam 54% em duas décadas. "Nada me diz que a tendência ao caos será revertida", afirma Epaminondas Duarte Júnior, da Coordenadoria de Concepção de Planos de Transportes do Metrô.

Problema metropolitano
Não é só a região do ABCD que tem proporção de viagens individuais superior à da capital paulista. A área nordeste da região metropolitana (que abrange Guarulhos, Arujá e Santa Isabel) já tem 54,06% de seus deslocamentos sustentados nos carros, motos, táxis e bicicletas, seguida ainda pela leste (Mogi das Cruzes, Poá e Suzano, entre outras), com 54%.
Duarte Júnior destaca a preocupação com municípios vizinhos porque, diferentemente da cidade de São Paulo, não há neles nenhuma discussão de desestímulo ao uso do carro. "Na capital, além do rodízio, também há mais medidas de priorização aos ônibus, que tiram faixas dos carros", afirma.
Os dados também reforçam os debates sobre a necessidade de políticas metropolitanas de transporte -e não isoladas. "Sem uma integração entre Estado e prefeituras, todas as soluções serão apenas paliativas", afirma Cláudio de Senna Frederico, ex-secretário dos Transportes Metropolitanos.
"Mas seria um contra-senso pensar numa restrição aos carros no berço da indústria automobilística", diz Epeus Pinto Monteiro, superintendente da EPT (Empresa Pública de Transportes) de Santo André, refletindo a forma como a região -que teve sua economia alavancada pelas montadoras- encara a possibilidade de "punir" os automóveis.
"Não é deficiência dos coletivos. A tendência natural é todo mundo querer ter seu carro próprio", diz Renato Maués, coordenador de infra-estrutura do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC.
"Esperamos que esses dados acendam a luz vermelha no foco dos futuros investimentos do Estado", diz Eurico Leite, secretário que cuida dos projetos especiais de São Bernardo do Campo, cobrando a ampliação de metrô.
A pesquisa OD, que fez 20 mil entrevistas (com margem de erro geral de dois pontos percentuais), também indica evolução de participação de motos e lotações entre os modos de transporte, mas ainda distantes de automóveis e ônibus. As viagens por motos, que representavam 0,71% do total em 1997, saltaram para 1,70%. As de lotações, de 0,97%, para 2,58%.


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