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Gravidez da namorada levou jovem abandonar os estudos na oitava série
LUISA ALCANTARA E SILVA
DA REDAÇÃO
Lavar carros durante o dia e,
à noite, escola. O trabalho era
para pagar as contas de casa, e,
os estudos, "para aprender a
entender tudo e ter uma vida
melhor". Mas o sonho foi interrompido há três anos, quando
Uoton José Mateus dos Santos,
então com 26 anos, soube que a
namorada estava grávida -seria uma gravidez complicada, e
ele deveria cuidar dela.
Uoton conversou com o proprietário do lava-rápido, que o
ajudou. Passou a trabalhar só
aos finais de semana -Andréia,
sua parceira, ficava com a mãe
nesses dias. Mas, além de parar
de trabalhar de segunda a sexta,
ele teve que largar a escola. Estava no início da oitava série.
Assim, ele se tornou um dos
7,4 milhões dos jovens urbanos
que não completaram o ensino
fundamental, segundo trabalho da Secretaria Geral da Presidência da República.
A decisão de parar os estudos
é vista hoje com arrependimento. "A culpa [por ter saído
da escola] foi minha, mas não
teve jeito. A Andréia não podia
ficar sozinha." Com a ajuda do
chefe, o salário continuou quase o mesmo de antes: R$ 300.
Sua vida começou a mudar há
cerca de quatro meses, quando
ele, que já não morava mais
com Andréia, conheceu Juliana, conta. Há dois meses, saiu
do lava-rápido e começou a trabalhar como gari na região central de SP, para ganhar mais
-recebe cerca de R$ 500.
Neste ano, quer voltar a estudar. "Saí da escola sabendo
pouca coisa", reclama. "Preciso
aprender melhor a ler e a escrever". Segundo Uoton, suas professoras "só escreviam na lousa
e mandavam copiar". Por isso,
continua ele, até hoje tem dificuldade. "Sei escrever, mas tem
palavras que eu confundo."
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