São Paulo, segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

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Gravidez da namorada levou jovem abandonar os estudos na oitava série

LUISA ALCANTARA E SILVA
DA REDAÇÃO

Lavar carros durante o dia e, à noite, escola. O trabalho era para pagar as contas de casa, e, os estudos, "para aprender a entender tudo e ter uma vida melhor". Mas o sonho foi interrompido há três anos, quando Uoton José Mateus dos Santos, então com 26 anos, soube que a namorada estava grávida -seria uma gravidez complicada, e ele deveria cuidar dela.
Uoton conversou com o proprietário do lava-rápido, que o ajudou. Passou a trabalhar só aos finais de semana -Andréia, sua parceira, ficava com a mãe nesses dias. Mas, além de parar de trabalhar de segunda a sexta, ele teve que largar a escola. Estava no início da oitava série.
Assim, ele se tornou um dos 7,4 milhões dos jovens urbanos que não completaram o ensino fundamental, segundo trabalho da Secretaria Geral da Presidência da República.
A decisão de parar os estudos é vista hoje com arrependimento. "A culpa [por ter saído da escola] foi minha, mas não teve jeito. A Andréia não podia ficar sozinha." Com a ajuda do chefe, o salário continuou quase o mesmo de antes: R$ 300.
Sua vida começou a mudar há cerca de quatro meses, quando ele, que já não morava mais com Andréia, conheceu Juliana, conta. Há dois meses, saiu do lava-rápido e começou a trabalhar como gari na região central de SP, para ganhar mais -recebe cerca de R$ 500.
Neste ano, quer voltar a estudar. "Saí da escola sabendo pouca coisa", reclama. "Preciso aprender melhor a ler e a escrever". Segundo Uoton, suas professoras "só escreviam na lousa e mandavam copiar". Por isso, continua ele, até hoje tem dificuldade. "Sei escrever, mas tem palavras que eu confundo."


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