São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2004

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CARNAVAL

Desfile do circuito Campo Grande/praça da Sé foi interrompido pelos bombeiros no final da tarde; chamas atingiram dois casarões

Incêndios atrapalham festa em Salvador

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Dois incêndios interromperam ontem o Carnaval de Salvador em dois de seus mais tradicionais circuitos -o Campo Grande e o Pelourinho (centro histórico). Uma das interrupções aconteceu às 17h45 e a outra, às 19h. Os dois circuitos foram liberados por volta das 22h20, mas voltaram a ser interditados em seguida.
Às 17h, aconteceu o primeiro incêndio, em um casarão de três andares, localizado a menos de 200 metros da passarela oficial da folia baiana, o Campo Grande.
As chamas começaram na parte superior do casarão, onde funcionava um camarote improvisado. De acordo com o Corpo de Bombeiros, cerca de 40 pessoas estavam no camarote quando surgiram as primeiras chamas.
Duas pessoas, entre elas uma aposentada de 83 anos, foram resgatadas pelos bombeiros no parapeito de outro prédio, vizinho ao atingido pelo fogo. Outras 15 utilizaram o telhado de um prédio vizinho como abrigo, enquanto esperavam pelo resgate.
Por determinação do Corpo de Bombeiros, todo o desfile no circuito Campo Grande/praça da Sé, o principal do Carnaval de Salvador, foi interrompido às 17h45. A Emtursa (Empresa de Turismo de Salvador) propôs um roteiro alternativo aos trios.
O outro incêndio, em outro casarão, começou às 19h, nas imediações da rua Saldanha da Gama, no centro histórico. Os bombeiros tiveram dificuldades para controlar as chamas -as ruas estreitas do Pelourinho dificultaram a entrada dos carros. A PM isolou a área, impedindo o desfile carnavalesco.

Candomblé
Antes dos incidentes, cerca de 1.500 pais, mães, filhos-de-santo e adeptos do candomblé desfilaram ontem em Salvador. "O terreiro foi às ruas", disse o presidente da Fenacab (Federação Nacional do Culto Afro-Brasileiro), Aristides Mascarenhas.
Os foliões entoaram cânticos do candomblé, mas não realizaram nenhuma cerimônia religiosa. "O que nós queremos é lutar contra a intolerância religiosa", disse Mascarenhas.
Respeitando a hierarquia da religião, o bloco foi dividido em alas. Na primeira, ficaram as mães e pais-de-santo, que exercem as funções mais importantes dentro de um terreiro. Depois vieram os ogãs, as baianas e, finalmente, os filhos-de-santo e as pessoas que não são adeptas do candomblé, mas convivem bem com a religião. Os pais e mães-de-santo que dirigem os terreiros mais conhecidos de Salvador desfilaram em cima de um trio elétrico.
Os participantes dos desfiles pagaram R$ 25 por uma camiseta -nos blocos tradicionais, uma fantasia custa cerca de R$ 600.

Ministro
Ao participar, na noite de anteontem, da abertura oficial do Carnaval de Salvador, o ministro Gilberto Gil (Cultura) não quis fazer nenhum comentário sobre a demissão de Roberto Pinho, seu amigo de infância. "Estou aqui (em Salvador) como folião, só falo da folia", disse Gil.
Há seis dias, Gil exonerou Pinho da Secretaria de Desenvolvimento de Programas e Projetos. O ex-secretário, que nega as denúncias, é acusado de irregularidades na assinatura de um convênio entre o ministério e o Instituto Brasil Cultural.
Autor de "Viva o Povo Brasileiro", tema do Carnaval de Salvador, o escritor João Ubaldo Ribeiro também compareceu à abertura oficial da folia. "Estou me sentindo consagrado, é uma coisa indescritível", disse Ribeiro.


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