|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Trânsito é visto por alguns motoristas como terapêutico
DA REPORTAGEM LOCAL
Amor e ódio convivem diariamente no trânsito de São
Paulo. Amor porque, apesar de
causarem muita irritação, brigas e acidentes, o grande número de veículos e os conseqüentes congestionamentos têm um
"lado positivo" para algumas
pessoas. Para elas, passar horas
estagnadas no veículo pode ser
a única forma de conseguir ouvir um CD inteiro, paquerar e
até fazer uma auto-reflexão.
É o caso de Júlia Campanati,
que já sofreu com o trânsito
paulistano e, hoje, vive em Salvador. Ela diz que ficar no carro
"é terapêutico", uma oportunidade para falar sozinha, cantar
e pensar na vida. Morando fora,
ela diz sentir falta "desse tempo
consigo mesma".
Ela integra um "fã-clube" de
simpatizantes do congestionamento no site de relacionamentos virtual Orkut, que conta com ao menos sete comunidades do tipo "Amo o Trânsito
de São Paulo". Também participam os irônicos, que, na verdade, não suportam o tráfego.
O assistente de logística Nelson Vaini Neto, 24, que reside
na zona sul e cruza a cidade para chegar ao trabalho, em Barueri (Grande São Paulo), contou à Folha que o trânsito, apesar de "horrível", é um momento para observar a arquitetura e
"flertar com alguma bonitinha
do carro do lado". Mesmo assim, ele decidiu comprar uma
moto há sete meses e "aposentar" seu carro.
A alternativa encontrada por
ele não é uma possibilidade para Amanda Santos, que aproveita as viagens para ouvir um
CD inteiro de suas bandas favoritas. "Em casa ligamos o rádio,
mas só toca música chata", diz.
Quem anda de transporte coletivo também vê benefício. A
funcionária pública Sandra Bélico, 34, que reside em Guarulhos (Grande SP) e trabalha no
Itaim Bibi (zona oeste), passa
quatro horas por dia no ônibus.
"Trânsito igual ao de São Paulo
não deve existir, mas, pela
quantidade de veículos, ele até
é organizado, tirando os péssimos motoristas", disse ela.
Outros simpatizantes têm
argumentos até sociais, como
Ane Caroline Pereira, 17. "Acho
que o trânsito é a única coisa
igual, socialmente falando. Você não vê apenas ônibus ou
Fuscas, mas também Audis e
Mercedes, todos durante a
mesma quantidade de horas
parados na marginal."
A quase unanimidade, entretanto, é que o trânsito de São
Paulo é insuportável. Motoristas que dependem do carro para trabalhar tentam não se irritar. "Mas tem hora que não dá",
afirma o taxista Antonio Luis
Camazano, 50. "Cheguei a ficar
cinco horas parado na marginal
Tietê." Para ele, congestionamento é chamariz para assaltos
e desocupados, que "já chegam" lavando o vidro do carro.
Texto Anterior: SP: IPVA tem recorde de arrecadação em cinco anos Próximo Texto: Espanha nega entrada a 8 brasileiros por dia Índice
|