São Paulo, quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

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Trânsito é visto por alguns motoristas como terapêutico

DA REPORTAGEM LOCAL

Amor e ódio convivem diariamente no trânsito de São Paulo. Amor porque, apesar de causarem muita irritação, brigas e acidentes, o grande número de veículos e os conseqüentes congestionamentos têm um "lado positivo" para algumas pessoas. Para elas, passar horas estagnadas no veículo pode ser a única forma de conseguir ouvir um CD inteiro, paquerar e até fazer uma auto-reflexão.
É o caso de Júlia Campanati, que já sofreu com o trânsito paulistano e, hoje, vive em Salvador. Ela diz que ficar no carro "é terapêutico", uma oportunidade para falar sozinha, cantar e pensar na vida. Morando fora, ela diz sentir falta "desse tempo consigo mesma".
Ela integra um "fã-clube" de simpatizantes do congestionamento no site de relacionamentos virtual Orkut, que conta com ao menos sete comunidades do tipo "Amo o Trânsito de São Paulo". Também participam os irônicos, que, na verdade, não suportam o tráfego.
O assistente de logística Nelson Vaini Neto, 24, que reside na zona sul e cruza a cidade para chegar ao trabalho, em Barueri (Grande São Paulo), contou à Folha que o trânsito, apesar de "horrível", é um momento para observar a arquitetura e "flertar com alguma bonitinha do carro do lado". Mesmo assim, ele decidiu comprar uma moto há sete meses e "aposentar" seu carro.
A alternativa encontrada por ele não é uma possibilidade para Amanda Santos, que aproveita as viagens para ouvir um CD inteiro de suas bandas favoritas. "Em casa ligamos o rádio, mas só toca música chata", diz.
Quem anda de transporte coletivo também vê benefício. A funcionária pública Sandra Bélico, 34, que reside em Guarulhos (Grande SP) e trabalha no Itaim Bibi (zona oeste), passa quatro horas por dia no ônibus. "Trânsito igual ao de São Paulo não deve existir, mas, pela quantidade de veículos, ele até é organizado, tirando os péssimos motoristas", disse ela.
Outros simpatizantes têm argumentos até sociais, como Ane Caroline Pereira, 17. "Acho que o trânsito é a única coisa igual, socialmente falando. Você não vê apenas ônibus ou Fuscas, mas também Audis e Mercedes, todos durante a mesma quantidade de horas parados na marginal."
A quase unanimidade, entretanto, é que o trânsito de São Paulo é insuportável. Motoristas que dependem do carro para trabalhar tentam não se irritar. "Mas tem hora que não dá", afirma o taxista Antonio Luis Camazano, 50. "Cheguei a ficar cinco horas parado na marginal Tietê." Para ele, congestionamento é chamariz para assaltos e desocupados, que "já chegam" lavando o vidro do carro.


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